Contexto Histórico
A idéia de que uma empresa pode ter obrigações que vão além da área econômica não é nenhuma novidade. Ao longo da história, o papel das organizações que produziam mercadorias e prestavam serviços para o mercado, estava relacionado a atividades políticas, sociais e/ou militares. Por exemplo, durante os estágios iniciais de sua evolução, as empresas na Inglaterra (onde organizações como a Hudson Bay Company e East Índia Company recebia demandas muito grandes) eram obrigadas a cumprir uma lei determinando que elas deveriam ajudar a alcançar objetivos sociais, como por exemplo, a exploração de territórios coloniais estabelecendo assentamentos, oferecendo serviços de transporte, desenvolvendo serviços bancários e financeiros, etc. Durante o século XIX, as empresas começaram a evoluir rapidamente nos Estados Unidos. Assumiram uma forma comercial que transferiu a responsabilidade de uma diretoria para os acionistas (isto é, dever fiduciário). Nessa última forma da evolução, as políticas públicas geralmente abrangiam domínios sociais específicos como saúde e segurança para trabalhadores, proteção ao consumidor, práticas laborais, proteção ambiental, etc. Assim, as empresas respondiam pela responsabilidade social porque eram obrigadas a cumprir a lei e seguir políticas públicas. Também se responsabilizavam, voluntariamente, pelas demandas do mercado que refletiam a moral dos consumidores e gostos sociais.
Em meados do século XX, a responsabilidade social empresarial começou a ser debatida nos Estados Unidos por especialistas em administração, como por exemplo, Peter Drucker, passando a ser considerada como literatura empresarial. Em 1970, o economista Milton Friedman (Prêmio Nobel da Economia – 1976) mencionou que a única responsabilidade social das empresas é gerar lucros para os seus acionistas contanto que obedeçam às regras do jogo e participem de uma competição aberta e livre.
Porém, esses conceitos de Friedman começaram a perder a força na medida que as práticas de RSE foram avançando e tornaram-se estratégias importantes. A RSE emergiu e continua a ser um ponto chave na administração das empresas, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, na Europa e alguns outros.
Na última década, ocorreu a expansão da Responsabilidade Social Empresarial e dos conceitos relacionados ao tema, como por exemplo, sustentabilidade empresarial ou cidadania empresarial. Talvez isso tenha ocorrido em resposta aos novos desafios surgidos em função da crescente globalização na agenda dos empresários assim como das comunidades de stakeholders. Esse conceito agora faz parte tanto do vocabulário como da agenda dos acadêmicos, profissionais liberais, organizações não-governamentais, associações de consumidores, funcionários, fornecedores, acionistas e investidores.
O que é a Responsabilidade Social Empresarial ?
A RSE é um termo em evolução que não possui definição padronizada nem um conjunto de critérios específicos totalmente reconhecidos. Levando-se em conta que as empresas exercem um papel primordial na criação de empregos e promoção do bem-estar na sociedade, a RSE é geralmente considerada como a forma pela qual uma empresa alcança o equilíbrio ou integração das condições econômicas, ambientais e sociais e, ao mesmo tempo, precisando atender expectativas dos acionistas e stakeholders. É geralmente aceita como aplicável a empresas nos locais onde operam, tanto na economia doméstica como mundial. A forma como as empresas engajam/envolvem os acionistas, empregados, clientes, fornecedores, funcionários do governo, organizações não governamentais, órgãos internacionais e outros stakeholders é, geralmente, uma característica básica do conceito. Enquanto a atitude de uma empresa, em relação ao cumprimento das leis, regulamentos, objetivos econômicos e ambientais, determina o nível de desempenho da RSE, a RSE é freqüentemente considerada como responsável pelo comprometimento e atividades do setor privado que vão além do cumprimento das leis.
Sob a perspectiva de uma empresa, a RSE geralmente envolve a busca de novas oportunidades como uma maneira de responder às demandas ambientais, sociais e econômicas do mercado. Muitas empresas acreditam que esse foco possa propiciar uma vantagem competitiva mais clara e estimular a inovação empresarial.
A RSE é geralmente vista como uma contribuição das empresas para com o desenvolvimento sustentável o qual foi definido como: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (definição da ONU) e geralmente é entendido como concentrar-se em como alcançar a integração das necessidades sociais, econômicas e ambientais. A RSE também muitas vezes é considerada sinônimo de muitas características de outros conceitos relacionados como sustentabilidade ou responsabilidade empresarial, cidadania corporativa, etc.
O comprometimento e ações da RSE tipicamente referem-se a aspectos do comportamento de uma empresa (incluindo suas normas e procedimentos) com respeito a elementos-chave como saúde e segurança, proteção ambiental, direitos humanos, práticas administrativas, governança corporativa, desenvolvimento da comunidade, proteção ao consumidor, proteção laboral, relacionamento com fornecedores, ética empresarial e direitos dos stakeholders.
As empresas são motivadas a envolverem os stakeholders em suas tomadas de decisões e para solucionar desafios societários porque hoje em dia os stakeholders estão cada vez mais conscientes da importância e do impacto das empresas na comunidade e no meio-ambiente. Os stakeholders podem recompensar ou punir as empresas e estas podem ser incentivadas a seu comportamento, em função da Ser. Isto pode incluir:
1 desempenho financeiro e lucratividade mais fortes (isto é, através da eco-eficiência);
2. maior responsabilidade para com a comunidade beneficiada;
3. maior comprometimento por parte dos funcionários;
4. Redução da vulnerabilidade através de um relacionamento mais forte com as comunidades.
Ferramentas da RSE
Para empresas interessadas em avançar na área da responsabilidade social empresarial, e melhorar seu desempenho social e ambiental, como parte de suas atividades, há uma grande quantidade de ferramentas disponíveis, que podem variar de acordo com os objetivos, âmbito, custos, nível de formalidade, parcerias, amplitude do envolvimento do stakeholder e muitas outras características. As ferramentas podem ser aplicadas a uma ou mais operações da empresa: planejamento, implementação, controles e melhorias em geral.
As empresas têm a opção de como elas poderão usar as ferramentas. Por exemplo, podem usar as ferramentas que tenham sido desenvolvidas por outros ou poderão desenvolver suas próprias – de maneira independente ou em parceria com stakeholders.
Sistemas de Gestão
As estruturas e sistemas de gestão consistem em outra maneira para melhorar o desempenho corporativo em relação aos seus objetivos sociais, econômicos e ambientais. As empresas reconhecem os benefícios dessa abordagem para suas operações.
Os sistemas de gestão podem ser utilizados para demonstrar o cumprimento das obrigações legais, reduzir riscos e outros encargos, que além de mostrar eficiência para os stakeholders, ajudam a alcançar outros objetivos, tais como redução de acidentes.
O uso dos sistemas de gestão oferece à empresa a oportunidade de incorporar suas demandas e desafios na RSE, inclusive a proteção ambiental, saúde, segurança, desenvolvimento da comunidade e engajamento dos stakeholders. O sistema geralmente abrange planejamento, implementação checagem, contabilidade, auditoria e outras melhorias típicas das operações empresariais.
Retorno do Investimento – O Caso das Empresas
Mudança no Ambiente Empresarial
O ritmo acelerado das mudanças ocorridas na economia é um fenômeno mundial. As tendências sociais e econômicas, como a crescente globalização, tecnologia da informação, freqüentes fusões e aquisições, aumento da concorrência, crescimento das empresas e das influências, geraram novas formas de pensar e realizar negócios.
Os stakeholders exercem um papel preponderante na vida das corporações. Michael Tuffrey do Reino Unido ressalta que chegamos a um ponto em que as agendas modernas das empresas estão sendo coordenadas externamente por seus clientes.
Em pesquisa realizada, os funcionários cada vez mais reconhecem o valor da responsabilidade social empresarial e o envolvimento da empresa na comunidade. O voluntariado apoiado pelo empregador está surgindo como uma das formas mais eficientes de demonstrar comprometimento com a sociedade e ao mesmo tempo colhendo ricas e múltiplas recompensas que têm um impacto direto nas linhas de base da empresa. Está comprovado que o voluntariado empresarial é um raro exemplo da situação ganha-ganha-ganha-ganha, através da qual o cidadão, governo, empresas e empregados saem ganhando.
Retorno Direto aos Funcionários
O Voluntariado Empresarial é uma manifestação concreta da Responsabilidade Social Empresarial que retorna à empresa inúmeros benefícios, como fortalecimento da imagem, lealdade do cliente e oferece melhores atrativos aos futuros funcionários.
Pesquisa da IBM e British Gás demonstrou que a imagem intensificada pelo desempenho na área social pode aumentar consideravelmente a habilidade da empresa para atrair e manter investidores, clientes e funcionários.
Empregadores, cujos funcionários se dedicam ao voluntariado, ganham o benefício de uma equipe mais competente (os ganhos são de 14 a 17 por cento como resultado direto do voluntariado). Os empregados cujos empregadores apóiam seu envolvimento junto à comunidade são mais leais aos seus empregadores e permanecem na empresa por mais tempo, reduzindo, assim, os custos necessários para seleção, recrutamento e integração dos substitutos.
Com base em pesquisa realizada com executivos nos Estados Unidos, a empresa New York-based Conference Board, resumiu algumas aptidões específicas que podem ser consideravelmente aprimoradas devido ao envolvimento do funcionário em ações sociais:
· Comunicação – escrita e oral
· Maior habilidade para administrar seu tempo
· Facilidade para lidar com as pessoas, ouvir e negociar
· Aptidão para realizar seu planejamento – curto e longo prazo
· Facilidade para preparar orçamentos
· Conviver com stress e administrar prioridades pessoais
Nos praticantes do voluntariado, também foram observadas as seguintes mudanças de atitude tanto profissionais como pessoais:
· Compreender melhor os colegas de trabalho e maior respeito pela diversificação;
· Uma nova forma de resolver as dificuldades;
· Maior prudência na hora de assumir riscos;
· Reconhecimento dos benefícios oferecidos pela empresa;
· Maior interesse pela comunidade e obrigações sociais;
· Maior reconhecimento pelas contribuições recebidas de todos os níveis da organização;
· Afirmação de sua capacidade e valor
Fonte: http:://strategis.ic.gc.ca/epic/internet /incsr-ser.nsf/em/h_rs00093e.html
Canadá
Parceiros Voluntários, julho/2006