A contribuição de Drucker para o tema do papel da educação na sociedade contemporânea apresenta urna riqueza especial por sua ênfase não só em aspectos concretos de política, mas também nos grandes princípios humanistas que devem guiá-la. Drucker parte da hipótese de que uma economia na qual o conhecimento chegou a ser o principal recurso gerador de riqueza coloca às instituições educacionais novas e exigentes demandas de eficácia e responsabilidade.Os membros ativos de uma sociedade precisam não só ter uma formação básica, mas também que esta se expanda para incorporar conhecimentos sobre informática e tecnologia (suas características, dimensões e ritmos de mudança), aspectos que não eram considerados imprescindíveis uma década atrás.Isto induzirá profunda transformação da educação nas próximas décadas, que terá dimensões maiores que as mudanças ocorridas ao longo dos três últimos séculos, desde a generalização do uso do livro impresso.As múltiplas fontes de informação de que se dispõe, e que aumentarão no futuro não poderão, no entanto, substituir o papel da escola como mecanismo de educação formal, pois somente através da aprendizagem organizada, sistemática e com objetivos definidos pode-se transformar a informação em conhecimento e possibilitar que este seja usado como ferramenta de mudanças individuais e sociais.
Segundo Drucker, as mais óbvias limitações da educação atual localizam-se nos aspectos concernentes a seu caráter instrumental. Os sistemas educacionais, especialmente nos Estados Unidos, Reino Unido e países que os têm como fonte de inspiração, partem da premissa errônea de que devem formar profissionais liberais ou dirigentes sociais, enquanto a realidade demonstra que a grande maioria dos alunos desses sistemas trabalharão como assalariados em organizações complexas. Assim, as instituições de ensino mostram-se incapazes de dotar seus alunos das habilidades mais primárias para lidar com a realidade que deverão enfrentar, qual seja a de ganhar a vida numa organização grande ou pequena). Não são ensinadas, em especial, técnicas elementares de eficácia como membros de uma organização: capacidade para apresentar idéias rapidamente, humildade e clareza, aptidão para trabalhar em grupo para dirigir seu próprio trabalho. Em outras palavras, não são transmitidas as técnicas necessárias para fazer da organização um instrumento das próprias aspirações e da realização dos valores humanos.A opinião de Drucker é que o tipo de educação de que se necessitará no futuro deverá ter não só essa função pragmática como também centrar-se na transmissão de responsabilidade social, que demanda ética, valores e moralidade.É neste ponto que se pode compreender com maior clareza o que chama “a traição da escola (norte-americana)”, e não porque ela tenha deixado de conhecer sua missão, ou porque cumpri-la tenha resultado especialmente difícil.Segundo o autor, a receita a ser aplicada do lado da oferta é conhecida e básica: exigência de padrões elevados e disciplina escolar. Do lado da demanda, sugere que se poderia avançar rumo a maior igualdade de oportunidades mediante subsídios públicos à escolarização obrigatória (fundos diretamente entregues às famílias, independentemente da escola – pública ou particular – freqüentada pelos filhos) combinados com bolsas e crédito para a educação superior.
Os requisitos específicos da nova educação variarão de acordo com as diferentes formas adotadas pela “sociedade do conhecimento”; no entanto, alguns dos princípios fundamentais do futuro podem ser identificados desde já:
a) a educação terá um propósito social e não estarão ausentes os valores; aliás, jamais o estiveram em nenhum sistema;
b) o sistema educacional será aberto, com mobilidade ascendente, como pretenderam torná-lo as grandes reformas educacionais desde o Renascimento, com exceção das escolas particulares inglesas. Este é um traço característico do sistema americano de ensino que, segundo Drucker, estimularia os alunos a regressar à educação formal, anos depois de tê-la abandonado, para obter seus diplomas de nível médio ou superior;
c) na “sociedade do conhecimento” a idéia de que há uma conclusão do processo educativo carece de sentido.
A educação continuada, especialmente das pessoas com alto nível acadêmico, será uma atividade florescente no futuro, embora as escolas e universidades ainda a vejam com desconfiança e, quando podem, sequer a considerem;
d) a educação não poderá permanecer confinada dentro das escolas; cada instituição que dê emprego poderá ser ao mesmo tempo um centro educacional. Neste aspecto, as vantagens mais evidentes pertencem aos Estados Unidos, onde os empregadores destinam consideráveis recursos e esforços à formação e treinamento de seus empregados (especialmente daqueles com maior grau de instrução formal), chegando a gastar tanto quanto todos os colégios e universidades em conjunto;
e) dever-se-á levar a sério o princípio de que se aprende para a vida e não para a escola, coisa que nem professores nem alunos tinham feito até o presente. Drucker ressalta não ter conhecido nenhuma instituição de ensino que comprove o que seus egressos recordam da matéria aprendida, dez anos após haverem obtido excelentes qualificações;
f) é radical a mudança de orientação de que se necessita. O sistema de ensino especializou-se em problemas, preocupa-se com os pontos fracos dos alunos. Embora seja certo que é preciso assegurar um nível comum básico de habilidades, ninguém pode organizar a eficiência a partir dos pontos fracos, nem mesmo corrigindo-os.
O processo educativo deve construir-se sobre as habilidades dos alunos. A distorção é óbvia: “os pontos fortes não criam problemas e as escolas estão orientadas para problemas”;
g) a educação tem a responsabilidade de impedir que a meritocracia degenere em plutocracia. Os filhos de pais abastados ou com alto nível de formação sempre terão vantagens, mas esta vantagem não deve ser insuperável pelos demais jovens. Visto não haver razão para que os contribuintes subsidiem os estudantes, poder-se-iam compensar as desvantagens financiando os estudos mediante bolsas e créditos, por conta da renda adicional que a educação gerará ao longo da vida.Os novos requisitos colocados à educação poderão ser atendidos mediante uso de novas tecnologias. Especialmente o televisor, o vídeo-cassete e o computador serão instrumentos cada vez mais dominantes, apesar da resistência das escolas em utilizá-los como algo mais que um complemento pedagógico. Novas tecnologias abrem possibilidades correspondentemente novas, mas podem aumentar também a frustração e a decepção dos alunos, que se verão obrigados durante um tempo a usar meios modernos, baseados em tecnologias que atingiram níveis sofisticados de desenvolvimento e são manejadas com um profissionalismo internacionalmente competitivo (a televisão e o vídeo-cassete), sob a condução de professores que não podem exibir o mesmo grau de sofisticação e competência internacional. No novo contexto tecnológico, o trabalho docente consistirá muito mais em orientar, dirigir, dar exemplos e animar do que em transmitir os conteúdos da matéria.
Fonte:CEPAL/UNESCO
A CEPAL – Comissão Econômica para a América Latina e Caribe – e a UNESCO – Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – publicaram, em 1995, um relatório denominado “Educação e Conhecimento: Eixo da Transformação Produtiva com Eqüidade”. O presente texto foi extraído dessa obra.