Maria Elena Johannpeter é um dos maiores nomes do terceiro setor no Brasil. À frente da Parceiros Voluntários (PV), entidade que completa dez anos neste 2007, ela se orgulha de ter captado e capacitado mais de 198 mil voluntários para causas sociais do País e de ter formado uma rede de 75 unidades da PV no Rio Grande do Sul. Nesta entrevista, Maria Elena (mulher do empresário Jorge Gerdau) faz um balanço da responsabilidade social no Brasil, do engajamento das empresas e defende a aproximação do primeiro setor, o Estado, com o terceiro setor -iniciativa privada e ONGs. Acompanhe:
O Brasil ainda está num estágio muito inicial de responsabilidade social?
Diria que está despertando para as questões sociais. Acredito que toda a sociedade, incluindo indivíduos, empresas e governo, tem que substituir a filosofia da caridade – que é válida mas fugaz – pela filosofia da “criação de métodos e metas de médio e longo prazo que produzam resultados sociais efetivos e duradouros para o próximo”.
Assistencialismo não resolve as mazelas do País?
O que resolve é planejamento.
As empresas estão comprometidas com o social?
Existem três eixos nos quais uma corporação precisa se posicionar: o econômico, o ambienta! e o social. O econômico a empresa sabe fazer bem porque é o negócio dela. Para o ambiental existem leis que ela precisa seguir. O que sobra é o social. Não tem nada que obrigue a empresa a fazer seu dever comunitário. A não ser as leis morais ou de mercado, já que alguns consumidores ficam atentos às marcas que abraçam causas sociais. A boa notícia é que algumas empresas entenderam o recado e estão mais conscientes de seu papel como líderes sociais.
A responsabilidade virou uma divisão de negócios dentro de uma corporação?
O lucro hoje também passa por princípios que, agreguem valor à marca. E uma soma de valores que a comunidade enxerga na empresa. Ele vem da união de qualidade e gestão responsável.
Mas o consumidor deixa de comprar produtos de uma empresa que não tenha vínculo com a comunidade?
Ele está mais atento, o que não significa que deixe de comprar. Mas acredito que, se você estiver diante de dois bons produtos e um deles tiver um selo social ou ambiental e o outro não, você optará pelo primeiro.
Qual o papel do Estado na responsabilidade social?
Posso citar um exemplo do Rio Grande do Sul, que tem um projeto de criação de uma rede social. É uma fundação cuja função é captar recursos no Exterior para os projetos sociais de várias ONGs do Estado. Com isso, temos o governo fazendo seu papel, que é usar sua figura institucional para trazer benefícios. Trata-se de um modelo moderno.
A interferência operacional do governo atrapalha?
O governo deve se concentrar nas suas políticas públicas para resolver problemas sociais. Numa parceria com o terceiro setor, ele já encontrará projetos prontos e tocados por agentes especializados e não precisará se envolver diretamente. Mas será essencial sua presença como fiscalizador e captador de recursos.
Quem é o grande líder social do Brasil?
Não vejo um grande líder, mas vários líderes, muitas vezes analfabetos, que são heróis em suas comunidades.
Qual o balanço desses dez anos da Parceiros Voluntários?
Eu credito o sucesso da PV a uma gestão forte. Ela é a primeira organização do terceiro setor a usar o Balance Score Card. Temos que ter metas e para atingir essas metas é necessário dispor de instrumentos que mostrem que a organização está no caminho certo. Hoje, na PV, temos projetos de educação para jovens, metodologia para capacitar voluntários, cursos de gestão e qualificação. Temos um bom trânsito com as empresas e o reconhecimento da sociedade.
O terceiro setor deve se profissionalizar?
Sou a favor do idealismo com profissionalismo. Fazer o bem é um investimento e para todo investimento é necessário um gestor que preste contas.
Entrevista concedida a Revista Isto É Dinheiro
25/04/2007