Os líderes mundiais do Conselho de Gestão do Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas (UNEP), reunidos no Quênia, disseram que, à luz das extremas quantidades de desperdícios na produção e consumo de alimentos em todo o mundo, ajustes de ineficiências poderiam prover alimentos suficientes para alimentar a população mundial.
Além de pressões ambientais no abastecimento alimentar global, incluindo as alterações climáticas, produção de biocombustíveis e secas, os desperdícios e a ineficiência na produção de alimentos são as maiores razões para a escassez alimentar mundial, de acordo com o novo relatório divulgado pelo Programa Ambiental das Nações Unidas.
O “The Environmental Food Crisis: The Environment”s Role in Averting Future Food Crises,” (A crise Alimentar Ambiental: o Papel do Meio ambiente para evitar futuras crises alimentares), lançado na reunião da UNEP, no Quênia, destaca alguns dos extremos desperdícios no sistema alimentar mundial:
• Pesquisas de suporte ao relatório estimam que cerca de 30 milhões de toneladas de peixe sejam devolvidas ao mar todos os anos;
• Mais de um terço do consumo mundial de cereais são usados para alimentar animais
• O desperdício de alimentos é abundante nos países desenvolvidos: no Reino Unido, cerca de 30% de todos os alimentos comprados não são consumidos, os EUA disperdiça entre 40 e 50% de sua oferta de alimentos, e na Austrália os resíduos alimentares representam metade de todos os resíduos nos aterros.
Fazer mudanças e reduções na quantidade de alimentos desperdiçados não só pode ajudar a alimentar a população mundial hoje, mas fornecer alimentos suficientes para um crescimento esperado da população, nos próximos 40 anos.
O relatório da UNEP estabelece um plano de sete passos para atingir os objetivos de tornar mais inteligente a utilização da cadeia de alimentos e proteger a fauna e dos ecossistemas, ao mesmo tempo.
“Precisamos de uma revolução verde na economia verde, mas um com um capital G”, disse Achim Steiner, Sub-Secretário-Geral da ONU e Diretor Executivo da UNEP. “Temos de lidar não só com a forma como o mundo produz alimentos, mas a forma como esse alimento é distribuído, vendido e consumido, e precisamos de uma revolução que aumente a produtividade através do trabalho com a natureza e não contra.”
Entre as ações previstas no plano, há a instituição de incentivos financeiros para proteger os pobres da elevação dos preços dos alimentos, produção de biocombustíveis a partirde materiais que não concorram com a agricultura (utilizando resíduos alimentares para gerar biocombustíveis) e ajuda a agricultores para que adotem práticas agrícolas mais diversificadas e ecológicas.
Ações com efeitos de curto-prazo
1. A fim de diminuir os riscos de preços altamente voláteis, devem ser estabelecidas regras para precificação de commodities e criados mais estoques de cereais para minimizar o restrito mercado de commodities de alimentos e os consequentes riscos da especulação nos mercados. Isso inclui reorganização das infra-estruturas no mercado de alimentos e para regular os preços dos alimentos e das instituições que gerenciem os preços de alimentos e prover redes de segurança alimentar destinadas a minorar os impactos da elevação dos preços dos alimentos e a escassez de alimentos. Isto inclui transferências diretas e indiretas, como fundos mundiais de apoio a micro-financiamento para aumentar a produtividade de pequenos agricultores.
2. Estimular a remoção de subsídios e taxas protecionistas dos biodieseis de primeira geração, o que promoveria a mudança para biodieseis de geração mais elevada com base em resíduos (se este não competir com a alimentação animal), evitando assim a utilização de lavoura pelos biocombustíveis. Isto inclui a remoção de subsídios às commodities agrícolas e insumos que estão agravando da crise alimentar, e investir na mudança para sistemas alimentares sustentáveis e da eficiência energética alimentar.
Ações com efeitos de médio-prazo
3. Reduzir a utilização de cereais na alimentação de animais e peixes, desenvolvendo alternativas para a alimentação desses animais. Isto pode ser feito em uma economia “verde” de alimentos com o aumento da eficiência energética dos alimentos usando peixes de devolução, captura e reciclagem de perdas e desperdícios pós-colheita, resíduos e desenvolvimento de novas tecnologias, aumentando assim a eficiência energética dos alimentos entre 30-50% nos atuais níveis de produção. Envolve também realocação de peixes atualmente utilizados para a alimentação aquicultura diretamente ao consumo humano, sempre que possível.
4. Apoio aos agricultores no desenvolvimento de sistemas de ecoagricultura diversificados e resistentes que fornecem serviços ecossistêmicos críticos (oferta e regulação hídrica, habitat para plantas e animais selvagens, diversidade genética, polinização, controle de pragas, regulação climática), bem como a alimentação adequada para satisfazer as necessidades dos consumidores locais.
Isto inclui a gestão de precipitações extremas e utilização de culturas intercalares para minimizar a dependência de insumos externos como fertilizantes artificiais, pesticidas e irrigação com água azul e desenvolvimento, implementação e suporte de tecnologia verde também para agricultores de pequena escala.
5. Aumento das trocas comerciais e melhor acesso ao mercado podem ser alcançados pela melhoria das infraestruturas e redução de barreiras comerciais. Contudo, isto não implica uma abordagem de mercado completamente livre, uma vez que a regulamentação de preços e de subsídios governamentais é crucial rede de segurança e investimentos em produção.
O maior acesso do mercado também deve incorporar uma redução de conflitos armados e a corrupção, que tem um grande impacto sobre o comércio e a segurança alimentar.
Ações com efeitos de longo prazo
6. Limitar o aquecimento global, incluindo a promoção de sistemas ambientalmente amigáveis de produção agrícola e políticas de uso da terra em uma escala para ajudar a mitigar as alterações climáticas.
7. Aumentar a conscientização das pressões do crescente aumento da população e padrões de consumo sobre o funcionamento de ecossistemas sustentáveis.
O relatório completo está disponível para download gratuito aqui.
Fonte: Equipe Agenda Sustentável (www.agendasustentavel.com.br)
HSM Online
08 de Julho de 2009