Encontro realizado pelo GIFE, no último dia 28 de agosto, em São Paulo, reuniu 32 dos principais investidores sociais de origem privada no Brasil para debater os rumos da área para os próximos anos. Ao analisar as tendências que se apresentam, hoje, no panorama nacional e internacional, os participantes mostraram o quanto elas terão um impacto importante nas ações das empresas, institutos e fundações daqui para frente.
Com o apoio da Fundação Roberto Civita, o evento faz parte de uma série de encontros promovidos pelo GIFE para discutir os rumos do investimento social de origem privada, com seus associados e outros setores da sociedade. O processo irá subsidiar a construção da Visão GIFE de Investimento Social Privado para 2020, que será apresentada durante o 6º Congresso GIFE, programado entre os dias 7 a 9 de abril de 2010, no Rio de Janeiro.
Segundo o gerente de Conhecimento do GIFE, André Degenszajn, essas tendências devem ser vistas, no entanto, como processos. “Buscamos localizar essas tendências no tempo, indicando o momento em que elas emergem e ganham força. As nossas ações irão definir, em grande medida, como elas irão afetar o setor do investimento social e com qual intensidade”, explica.
Investimento e Responsabilidade Social
Uma das primeiras tendências apontadas durante o encontro foi a já crescente aproximação da área de investimento social da gestão socialmente responsável das empresas. Sabendo que o primeiro é o repasse voluntário, planejado e monitorado para ações sociais de interesse público, a incorporação desses valores na cadeia produtiva trará impactos positivos para a gestão da empresa.
Segundo o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, a convergência levará a benefícios, pois se trata da “unidade de inteligência social” das empresas trabalhando também para o negócio – seja como uma área dentro da organização, seja a aproximação de uma fundação ou instituto de seu mantenedor.
O alinhamento entre setores público e privado também foi apresentado como algo em curso nas ações promovidas pelo grupo, sendo visto de vital importância para as ações voltadas ao bem comum. No entanto, na visão dos participantes do encontro, a efetivação dessa convergência, com influência em políticas públicas nas mais diversas áreas, se dará apenas em longo prazo.
Diversificação do setor
A ampliação dos modelos de investimento social foi levantada com especial atenção durante o debate do grupo. Segundo Rossetti, no Brasil, ainda há uma predominância do investimento social corporativo, em comparação a outros formatos, como o comunitário, o familiar e o independente.
O desafio para diversificar a origem dos recursos, segundo os participantes, deve-se, no entanto, à falta de um marco legal para o setor, que incentive a formação de novos grupos de investidores. Como é necessário um trabalho anterior para criar esse ambiente regulatório propício, com envolvimento do Estado, uma ampliação desses modelos será vista apenas no final da próxima década.
Também em longo prazo será percebido o envolvimento de micro, pequenas e médias empresas como atores importantes do investidores sociais. Com menos recursos, sejam eles financeiros ou humanos, essas organizações têm, pelo menos no Brasil, uma participação ainda muito pequena no setor, adotando práticas mais assistenciais e pulverizadas.
Com base nesse cenário, um prognóstico promissor, levantado pelos participantes, é o de estimular essas organizações a investir em bloco, em especial nas iniciativas locais. Um bom exemplo são as fundações comunitárias, geridas por representantes da comunidade local, que criam mecanismos de sustentabilidade para ações em uma base territorial definida.
Afinal, a ampliação do investimento em desenvolvimento comunitário também apontada como tendência certa para os próximos anos. Não por acaso, o GIFE e a RedAmerica – Rede Interamericana de Fundações e Ações Empresariais para o Desenvolvimento de Base firmaram em junho deste ano a Aliança GIFE – RedEAmérica, para qualificar empresas e fundações a trabalhar com o tema. (leia mais).
Por outro lado, também foi apontado, principalmente a partir de uma perspectiva internacional, que serão apropriados novos temas para investimento, em médio prazo. Eles serão levados ao setor a partir das demandas sociais. Esse é o caso de alguns filantropos europeus, que agora debatem sobre como podem combater a exclusão social de imigrantes em seus países.
Escassez de recursos
Os pontos mais negativos e de curto prazo analisados na reunião realizada no dia 28 foram: a redução dos recursos internacionais para o Brasil e a cada vez maior competição de financiamento entre organizações. Enquanto as grandes agências de cooperação internacional voltam seus recursos para a África, tal como as grandes fundações do hemisfério Norte, as organizações sociais no Brasil veem esvaziar suas fontes de captação.
Segundo Fernando Rossetti, o financiamento da área social do país se dá de outras quatro formas, além da ajuda internacional: pelo governo, principalmente por meio de concessões de certificados para organizações de ação direta em saúde, educação e assistência social; por igrejas, que, invariavelmente, mantêm os recursos em projetos comunitários; produtos e serviços, oferecidos por ONGs a partir de sua expertise (consultoria, qualificação etc) e da filantropia.
“A crise de sustentabilidade no terceiro setor é estrutural”, afirma Rossetti.
Nessa equação, é possível perceber que os cofres começaram a minguar. Daí, a necessidade de fortalecer novos modelos de financiamento além do corporativo. A saber, de acordo com o Mapa do Terceiro Setor, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 2005, somente 13% das doações privadas eram provenientes de indivíduos.
Por isso, a emergência de modelos de filantropos no Brasil discutida no encontro. Isso significa dizer que o país precisa de exemplos para criar uma cultura de doadores individuais, tal como ocorre na América do Norte e em partes da Europa.
Na prática, é fazer com que grandes personalidades (em especial do mundo empresarial) deixem de fazer anonimamente suas doações para estimular outros a fazerem o mesmo. Porém, apesar de ser importante para a sobrevida do setor, o diagnóstico de mudança de cultura sempre está associada a processos de longo prazo.
Nesse cenário, não é de se espantar a necessidade cada vez mais urgente de um setor mais planejado e estruturado, que tenha metas definidas e adotem padrões elevados de transparência e accountability, como mostra mais uma tendência debatida no evento.
Como se trata uma necessidade imediata, a profissionalização do terceiro setor é imprescindível para a área de Investimento Social Privado. “As organização devem buscar excelência profissional para lidar com esses desafios.”
Made in Brazil
Sob uma perspectiva global, também foi levantada a ampliação da filantropia internacional, em que o Brasil tem uma participação de destaque. “Passamos a exportar tecnologias sociais, levando modelos para outros países”, lembra Rossetti.
Um exemplo, é a metodologia do programa Nossa Escola Pesquisa Sua Opinião (Nepso), elaborada pelo Instituto Paulo Montenegro, que estimula o uso das pesquisas de opinião como instrumento pedagógico. Sob esse ponto de vista, é inequívoca a tendência do Brasil se tornar um player de relevância nesse jogo.
Veja lista de organizações participantes:
Empresas
Grupo Santander, Promon, TV Globo, Banco Bradesco, Comgas- Companhia de Gás de São Paulo, Natura, CCR – Companhia de Concessões Rodoviárias e AES Brasil
Institutos
ibi, Paulo Montenegro, Razão Social, Société Generale, Nextel, United Way Brasil, Embraer de Educação e Pesquisa, Avon, BM&F Bovespa e Gerdau,
Fundações
Abrinq, Itaú Social, Victor Civita, Cargill, Banco do Brasil, Arcelor Mittal Brasil, Telefônica e Bradesco.
Fonte: Rodrigo Zavala