Falando a empresários da construção civil, Paulo Itacarambi destacou que é urgente o engajamento das empresas na implementação de uma economia sustentável.
Uma grave ameaça está sobre nossas cabeças e temos que fazer um esforço imediato para enfrentá-la. Foi assim que o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, se referiu às mudanças climáticas durante o 2º Simpósio Brasileiro de Construção Sustentável, que aconteceu em São Paulo nesta segunda-feira (24/08).
Segundo Itacarambi, que participou do painel “Os Desafios da Sociedade Diante das Mudanças Climáticas”, é urgente que se implementem medidas sustentáveis em todos os setores da economia. “Embora o custo seja alto, não há mais como retardar essas ações. Apesar de ser difícil, é possível abrandar a situação”, disse.
De acordo com dados apresentados por ele, se o Brasil investir 1% do PIB em ações sustentáveis, é possível reduzir a emissão de gases de efeito estufa no país em 70% até 2030. “Além do mais, isso representa uma ótima oportunidade para as empresas, principalmente as de construção”, falou.
Outro ponto defendido pelo vice-presidente do Ethos foi a maior abrangência do que a sociedade entende por sustentabilidade. “Devemos entender que, apesar de o tema ambiental ser a principal preocupação, a questão envolve diversos outros fatores, como os sociais e econômicos. É necessário reduzir, além das emissões, a exploração ineficiente dos nossos recursos naturais”, alertou.
“Em um planeta com 6 bilhões de habitantes, dos quais 4 bilhões são excluídos, temos de pensar que em algum momento eles nos cobrarão. E como incluí-los sem esgotarmos o pouco que ainda temos?”, questionou Itacarambi.
Para ele, o caminho é a mudança dos modelos de produção e do padrão de consumo. “Isso tem de vir de dentro. Enquanto acharmos que a qualidade de vida é individual e material, não melhoraremos nada. Esses valores atuais estão degradados e já são inconcebíveis”, enfatizou.
Itacarambi destacou que a finalidade dessas medidas devem ser buscar uma gestão responsável, tanto na economia e na utilização dos recursos quanto na inclusão social. “É preciso que o governo federal tenha uma posição clara e lidere o país nas negociações, principalmente sobre o clima, em todo o planeta. Se hoje as ações necessárias para trilhar um percurso sustentável já são difíceis, imaginem daqui a 20 ou 30 anos”, falou.
Paulo Itacarambi citou a criação de “empregos verdes” como um trunfo nas negociações para a implementação de atividades sustentáveis. “Os empregos que lidam com a sustentabilidade são o gancho do desenvolvimento das próximas décadas”, disse.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem publicado estudos sobre o aumento dos empregos verdes em diversos países no mundo e vem observando um crescimento vasto nessas ocupações, de acordo com o também palestrante Paulo Muçouçah, coordenador dos programas de trabalho decente e empregos verdes da OIT no Brasil.
Segundo Muçouçah, os empregos verdes são aqueles que, além de ajudarem a reduzir impactos ambientais, trazem dignidade aos trabalhadores. “Não podemos considerar o cortador de cana, por exemplo, como alguém com emprego verde, pois, apesar de ajudar na produção de etanol, muitas vezes é mal remunerado e tem péssimas condições de trabalho”, analisou.
Mesmo assim, o representante da OIT acha que esse é um momento em que as indústrias estão sendo obrigadas a emitir menos carbono, uma situação bem diferente daquela a que se acostumaram. “Não tem mais escapatória. Os empresários terão de aderir a processos mitigatórios ou adaptativos para sua própria existência. E é nesse processo que os empregos verdes estão inseridos”, disse.
A OIT considera emprego decente aquele em que o trabalho é adequadamente remunerado e exercido em condição de liberdade, equidade e segurança, garantindo vida digna ao empregado e à sua família. “Sustentabilidade é isso. Não tem como ser unilateral, só pensando em meio ambiente. É preciso considerar o econômico e o social também”, afirmou.
Ainda segundo pesquisas da OIT, o potencial de criação de empregos verdes é de 3,5 milhões até 2020, somente na Europa e nos Estados Unidos. “No Brasil, apesar de as fontes serem poucas, estimamos que hoje mais de 740 mil pessoas exerçam uma atividade sustentável, principalmente na construção civil e no setor energético”, falou Muçouçah.
Para a palestrante Laura Valente, diretora para a América Latina e Caribe do Iclei – Governos Locais pela Sustentabilidade, a educação é o fator preponderante para o estímulo da criação de empregos verdes no Brasil: “Temos programas que valorizam principalmente a capacitação, visando aspectos sociais e ambientais e evidenciando que a diminuição do consumo é o primeiro passo para uma economia limpa e igualitária.”
Fonte: Por Fabrício Ângelo (Envolverde) / Edição de Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)