A qualidade dos relatórios de sustentabilidade das empresas brasileiras é apenas mediana. Caso fossem avaliados como alunos de escola, pela média, seriam reprovados no final do ano.
Essa é a conclusão da pesquisa “Rumo à Credibilidade”, realizada pela Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS), em parceria com a organização internacional SustainAbility. O estudo tem como objetivo encorajar as empresas a aprimorarem suas práticas de relatar e expor o que empresas globais podem aprender com elas.
Para o presidente da FBDS, Israel Klabin, o setor privado já está qualificado para trabalhar com questões sociais e ambientais. O que as empresas precisam agora é de “ética” para enfrentar os desafios.
Seja como for, se elas estão qualificadas — como acredita Israel Kablin — não conseguem passar isso para o papel, conforme conclui a pesquisa.
O Levantamento
O “Rumo à Credibilidade” é um estudo piloto realizado pelo Programa Global Reporters, da SustainAbility. Desde 1983, a instituição realiza uma pesquisa bienal global sobre a qualidade dos relatórios de sustentabilidade no mundo com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
“Lançamos neste ano um novo foco para a coleta de dados: com recortes mais específicos por região e setores de negócios”, afirmou Jodie Thorpe, diretora do Programa Economias Emergentes, da SustainAbility. Para 2008, a região escolhida foi o Brasil, pois é uma “economia emergente a caminho das melhores práticas para o desenvolvimento sustentável”.
Seguindo uma metodologia criada especificamente para este levantamento, os pesquisadores buscaram, entre outros critérios, empresas reconhecidas por suas práticas socioambientais, abrangência nacional, estar entre as maiores do país e, claro, realizar relatórios que seguissem as diretrizes da Global Reporting Iniciative (GRI).
Das 76 empresas que correspondiam a pré-requisitos básicos, foram selecionados 28 relatórios, compartilhados mais tarde com um Conselho Consultivo para a seleção dos 10 líderes (Top 10). Como a quantidade de relatórios de sustentabilidade publicados atualmente no Brasil não passa de 80 (segundo a corporateregister.com), os Top 10 representa mais do que 10%.
Os documentos foram avaliados em 29 itens, que analisam governança e estratégia, mecanismos de gestão, apresentação de desempenho, acessibilidade e verificação.
Sob esse prisma, a pontuação dos relatórios na pesquisa variou desde a máxima de 54%, da Natura, até a mínima de 35%, do Banco Itaú. A média de pontuação das empresas foi de 47%, ainda bem abaixo da média mundial, 57%. Na lógica da escola, cinco relatórios seriam aprovados no final do ano (veja abaixo a lista completa).
“Fica claro que ainda temos um caminho aqui no Brasil. Esse ranking não visa mostrar as melhores empresas, mas sim os melhores relatórios, as melhores práticas de reporte e divulgação de informações”, afirma Clarissa Lins, diretora executiva da FBDS e coordenadora do Projeto.
Pontos Fracos e Fortes
Quando analisados os detalhamentos em Gestão, Clarissa Lins afirma existir uma boa descrição dos procedimentos gerenciais. No entanto, sua atuação frente a políticas públicas, gestão da cadeia de valor e relações com o investidor ainda é “tratada timidamente”.
”Está faltando ver além das fronteiras. Por que não falar sobre a influência da empresa em políticas públicas, ou mesmo sobre a cadeia de fornecedores? Existe um vazio”, crê.
Outras ausências são vistas no quesito Desempenho, como a falta de indicadores adequados, carência de contextualização, além de metas qualitativas genéricas. “Sob esse aspecto as 10 empresas avaliadas tiveram a menor pontuação média. Não mostram se os resultados atenderam a objetivos traçados pela empresa”, garante Clarissa Lins.
Sobre a questão Acessibilidade, as críticas foram ainda mais incisivas. Em três pontos principais, os pesquisadores apontaram “a necessidade de publicar dados mais accessíveis e comparáveis”, “relatar o que importa” e “incluir a voz dos stakeholdes” (público interessado).
Segundo a diretora executiva, os relatórios são muito extensos (a média brasileira é de 160 páginas, enquanto a mundial é de 70) e não vão direto ao ponto. “É preciso ver também que a maior parte das empresas incluem os stakeholders de forma pontual, geralmente para ler o relatório, e não para ganhar valor, aproveitando sua análise”.
Pelo estudo, outro ponto fraco no que tange a Governança, é a “necessidade de aprofundar o valor estratégico dos relatórios, demonstrando como a sustentabilidade permeia os negócios”. Para ela, ainda não há transparência nessa questão.
No fim, falta aos relatórios de sustentabilidade abordar os desafios e falhas das empresas. “Parece que não querem mostrar que têm desafios. Isso faz parte e é muito importante expor as notícias ruins e problemáticas, assim como as boas notícias”, afirma a coordenadora da pesquisa.
O Diretor do Departamento Nacional do SESI, Carlos Henrique Ramos Fonseca, acredita que a pesquisa não é negativa sobre o trabalho das empresas. “Essa pesquisa deve ser vista como educativa. Estamos aprendendo”.
Veja abaixo a lista dos Top 10 (Empresa – Setor de Atividade – Pontuação):
1) Natura – Higiene e beleza – 54%
2) Suzano Petroquímica – Petroquímica – 53%
3) Ampla – Concessionária de energia elétrica – 52%
4) Coelce – Concessionária de energia elétrica – 52%
5) Banco Real – Serviços financeiros – 51%
6) Energias do Brasil – Concessionária de energia elétrica – 47%
7) Sabesp – Concessionária de água e saneamento – 46%
8) Bunge – Agronegócios – 41%
9) Celulose Irani – Papel e celulose – 41%
10) Banco Itaú – Serviços financeiros – 35%
Para ler a íntegra do relatório “Rumo à credibilidade”, clique aqui.
Rodrigo Zavala
Fonte: GifeOnline
Data: 22/12/2008