Estudo da consultoria Ernst&Young mostra que consumidores exigentes, com alto grau de consciência socioambiental, se tornaram uma preocupação para as empresas. Com o título “Riscos Estratégicos aos Negócios – 2008 – Os Dez Maiores Riscos às Empresas”, o levantamento teve como base conclusões de 70 especialistas pelo mundo, que analisaram 12 setores da economia.
Embora o estudo seja abrangente, apontando também riscos regulatórios – mudanças na legislação –, choques financeiros, mercados emergentes etc, a questão do consumo consciente aparece na nona posição na média dos maiores impactos. “Há 20 anos as empresas achavam que se tratava apenas de uma moda. Mas agora perceberam que era um tsunami”, brinca o diretor de Sustentabilidade da Ernst&Young, Joel Bastos.
O risco do chamado “radical greening” (definição da pesquisa), e seu peso varia conforme o setor em que a empresa atua. Segundo Bastos áreas como a petrolífera, automobilística, e energia têm nas questões ambientais um risco forte a ser gerenciado. “A temática do aquecimento global é antiga, mas tem sido colocada cada vez mais pela mídia”.
No cenário previsto pela consultoria, os consumidores caminho no sentido de banir empresas que não considerarem responsáveis. Isso levará o setor privado pensar em estratégias mais eficientes nos seus impactos socioambientais. Uma indústria de automóveis, por exemplo, terá de trabalhar com a perspectiva de automóveis menos poluentes, ou um banco não dar crédito a negócios sem essa preocupação.
A discussão sobre consumidores conscientizados pressionando o setor privado para ser mais responsável não é novo. No entanto, as últimas pesquisas, realizadas no Brasil, sobre a visão dos consumidores a respeito das ações de Responsabilidade Social Empresarial e Investimento Social Corporativo revelam que eles andam menos engajados e não são ativos na hora de exercerem seus poderes.
Apesar de se mostrarem “interessados”, os entrevistados parecem não premiar ou punir, na prática, organizações por seus trabalhos em RSE ou ISP, apesar de teorizarem sobre o tema.
Um dos últimos levantamentos a identificar esse comportamento é o Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro, divulgado pelos institutos Akatu e Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, em parceria com Market Analysis Brasil. O relatório reúne sistematicamente dados coletados desde 2000 e aponta para a linha evolutiva da relação Consumo X Responsabilidade.
Os dados, apresentados pelo diretor-presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, e pelo diretor geral do Market Analysis, Fabián Echegaray, no entanto, diagnosticam certas contradições. Com base no relato de 800 pessoas entre 18 e 69 anos, em oito regiões metropolitanas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Brasília), os entrevistados ora demonstram acreditar na contribuição empresarial a temas sociais, ora desconfiam de seu trabalho e têm menos expectativas sobre o seu papel extra-econômico.
Cerca de 77% dos respondentes têm interesse em conhecer as ações socioambientais empresariais. O índice revela estabilidade se comparado aos dados registrados nos levantamentos anteriores (2004 – 72%; 2005 – 78%; 2006 – 75%). Por outro lado, houve uma retração nas expectativas sobre o papel extra-econômico das grandes empresas, tendo passado de 64%, para 51%, em 2007.
Outro dado curioso é o de merecimento: embora 75% dos entrevistados concordem com a idéia de que tem o poder “para interferir na maneira como uma empresa atua de forma responsável”, mais de 70% deles não pensaram em premiar ou efetivamente premiaram as companhias socialmente responsáveis, comprando produtos ou falando bem dessas empresas. Menos de 30% consideraram a hipótese de punir ou efetivamente puniram.
*Rodrigo Zavala
Fonte: GIFE Online
19/05/08