Empresas de pequeno porte podem fazer investimentos planejados, monitorados e sistemáticos para projetos sociais de interesse público. Basta terem estratégia, criatividade e a perspicácia de entender as demandas da comunidade em que estão inseridas para trabalhar conjuntamente com sua população.
As possibilidades foram debatidas no seminário Comércio Varejista e Sustentabilidade, promovido pela Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio), no último dia 5. Nele, especialistas e investidores analisaram os principais desafios para os empresários que pretendem implantar práticas socialmente responsáveis em suas organizações.
Embora estivessem no rol de palestrantes, grandes grupos investidores como o Pão de Açúcar e Wal-Mart – representados por Daniela Fiore e Paulo Pompilio, respectivamente -, um dos pontos fortes do evento foi a discussão de como os pequenos e médios empreendimentos podem iniciar seus próprios projetos sem vultosos aportes.
“A grande oportunidade do setor varejista é a sua capilaridade. Ele está pulverizado na comunidade”, afirmou o coordenador do Programa de Responsabilidade Social e Sustentabilidade no Varejo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp), Fundação Getúlio Vargas, Jacques Gelman.
Novas experiências
Entende-se como do setor de varejo o estabelecimento que dialoga diretamente com o consumidor final, sem intermediários. Nesse sentido, com o ponto vista da pequena e média empresa, ele é o supermercado de bairro, o açougue da rua, a padaria etc. “O varejista é o elo entre o consumidor e fornecedor. Ele pode ser um catalizador de processos”, acredita Gelman.
Um exemplo prático de como é possível iniciar um projeto social, sem gastar muito, vem do Distrito Federal. O que antes era apenas um açougue, vem se tornando, desde 1994, um dos mais irreverentes projetos culturais brasilienses. É o Açougue Cultural T-Bone, na Asa Norte de Brasília.
Os donos criaram, dentro do açougue, nada menos que uma biblioteca com 40 mil livros – começou com 10 volumes – que podem ser consultados ou retirados por qualquer pessoa da cidade. Não contentes, promovem noites culturais duas vezes por ano que já chegaram a reunir, na praça em frente, milhares de pessoas para assistir a shows de música popular e erudita, lançamento de livros e peças de teatro, entre outras atrações.
A experiência não apenas é reverenciada pela comunidade, como também passou a receber apoio do Ministério da Cultura, Petrobrás, Instituto C&A e da Universidade de Brasília.
Outra experiência celebrada pelos especialistas em responsabilidade social e investimento social privado no varejo é o caso do Supermercados Cardoso, em Jequié, Bahia. Em vez dos tradicionais sorteios de brindes para alavancar as vendas, o proprietário resolveu adotar uma postura mais “social”.
Nas cartelas a serem sorteadas, ele inscreveu 20 entidades beneficentes para o consumidor eleger como merecedora de um generoso prêmio em dinheiro, dado pelo supermercado. Enquanto a organização ganhava com o novo aporte de recursos, o consumidor recebia um vale-compra – além da idéia de participar da ação social, mesmo que indiretamente.
“O Supermercado nunca ganhou tanto com uma ação, pois as 20 entidades fizeram boca-a-boca para comprar na loja. Mas, tínhamos a certeza que não levamos à comunidade a qualquer transformação social”, lembrou o empresário Márcio Cardoso.
Com a idéia de que era possível conciliar o negócio com ações sociais, o supermercado não apenas criou um comitê de responsabilidade social, como deu início a uma política de investimento social privado em projetos de cultura, saúde, esporte. As ações envolvem conscientização à doação de sangue, campanhas para a coleta seletiva de lixo e apoio a cooperativas de catadores, incentivo a novos atletas e prática de esporte dos colaboradores, entre outras.
”A empresa não apenas adquire status com o consumidor, mas percebe uma diferença na motivação dos funcionários. Também existe um reconhecimento do poder público, de que você faz algo diferente”, argumentou Cardoso.
Consumidor
O “status” apontado pelo empresário Márcio Cardoso, pode ser identificado nos dado apresentados pelo diretor-presidente do Instituto Akatu, Helio Matttar, durante o evento. Divulgada pela organização em março deste ano, a Pesquisa 2006 e 2007 – Responsabilidade Social Empresarial – Percepção do Consumidor Brasileiro, aponta que cerca de 43% dos consumidores brasileiros esperaram que as empresas tenham ações de investimento social privado.
“O varejo está pressionado pelo lucro trimestral, tal como pelas exigências dos consumidores. O que pode ser feito é começar com poucas práticas. Talvez não consigamos lutar contra o consumo competitivo, mas oferecer boas ações”, crê Mattar.
*Rodrigo Zavala
Fonte: GIFE Online
08/09/08