*Rodrigo Zavala
O Brasil terá pouco espaço para ser um ator de destaque no mercado global responsavelmente competitivo caso não crie políticas públicas eficientes para isso. Embora iniciativas do setor privado tenham crescido, o país ainda está muito distante de seu potencial e, possivelmente, crescerá menos que outros países em desenvolvimento (Rússia, Índia, China e África do Sul) no mercado internacional.
As opiniões são dos especialistas convidados para analisar o relatório “O Estado da Competitividade Responsável”, em evento realizado pela Serasa, no último dia 18. O estudo é uma avaliação feita pelo Instituto de Pesquisa Social e Ética AccountAbility, sediado em Londres, Inglaterra, com a colaboração da escola de negócios brasileira, Fundação Dom Cabral, sobre práticas empresariais responsáveis ao redor do mundo.
Segundo o presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcio Pochmann, o assunto historicamente foi negligenciado da agenda de desenvolvimento do país, já que o Estado sempre apresentou uma “estreiteza de pensar em longo prazo”. “Os projetos, quase invariavelmente, foram pensados para quatro anos”, alegou.
O relatório avalia a conduta dos setores privados e públicos em 108 países, examinando o esforço de cada um em tornar-se competitivo com a prática de negócios responsáveis. O topo da lista indica que os países desenvolvidos, em particular os europeus, estão na frente quanto à prática de negócios sustentáveis no coração das suas economias.
A Suécia aparece em primeiro lugar, seguido pela Dinamarca, Finlândia, Islândia e Reino Unido. O Brasil está na 56º posição, atrás de países como Chile (24º), África do Sul (28º), Costa Rica (36º), Peru (45º), El Salvador (49º), Uruguai (52º) e Colômbia (55º). “Os países que falharem em competir responsavelmente podem perder a oportunidade de participar em um mercado emergente que excede US$ 750 bilhões, ou mais de 1% do PIB mundial”, declara o documento.
Competitividade Responsável
Para explicar um pouco mais sobre o que significa o conceito, o relatório conta com prefácio de Al Gore: “um futuro sustentável implica em mercados que recompensem o desempenho em longo prazo. Isso significa encarar a prática empresarial responsável como a linha mestra para a qualidade dos negócios e sua administração. Implica também em políticas públicas e ações de incentivo que ajudem as empresas a fazerem o que é certo”, explica o ex-presidente norte-americano.
De acordo com o diretor do relatório pela AccountAbility, Alex MacGillivray, presente no evento, a competitividade responsável trata de fazer valer o desenvolvimento sustentável nos mercados globais. “Sãos os mercados que recompensam práticas de negócios que geram melhores resultados sociais, ambientais e econômicos; e que aplicam sucesso econômico para nações que encorajam essas práticas comerciais através de políticas públicas, normas sociais e ações de cidadania”.
O estudo, assim, é um levantamento de progressos que tem uma abrangência global. “A conclusão do relatório é que a responsabilidade pode e deve reforçar a competitividade para países em todos os níveis de desenvolvimento”, garante o diretor da AccountAbilitty, Simon Zadek, nos textos que acompanham o levantamento. Segundo ele, a competitividade responsável é parcialmente incentivada pelas forças do próprio mercado em dois níveis.
O primeiro, o micro, quando se assume que cada vez mais os empreendimentos e estratégias que a incorporaram são reconhecidas como tendo um “enorme” potencial para a criação de valor econômico e resultados lucrativos. “Uma agenda de inovação empresarial, que traduz os desafios sociais e ambientais de nossa época em oportunidades.”
O segundo, macro, tem como base o “exponencial crescimento econômico global das últimas décadas, que tirou centenas de milhões de pessoas da miséria”. O entendimento é que os mercados globais fomentam o comércio internacional, que representa agora mais de 20% do Produto Econômico Global, e tem um papel crucial no impulso dos resultados positivos.
Educação
A má qualidade da Educação no Brasil e os poucos investimentos em pesquisas e inovação foram colocados como algumas das políticas fundamentais para o fortalecimento do Brasil. Em uma análise resumida, Pochmann e o professor, pesquisador e gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral, Cláudio Boechat, mostraram como essa condição inviabiliza a entrada do país no mercado global.
Por um lado, a hipercompetitividade criou um cenário de fusões, deixando grandes corporações com um imenso poder econômico. “Daqui a pouco, apenas quatro grandes grupos controlarão o mercado. Como você pensa o desenvolvimento sustentável de um país, cujas empresas não conseguem competir com o mercado de grande corporações?”, questionou o presidente do Ipea.
No ranking das 500 maiores empresas do mundo, divulgado todos os anos pela revista americana Fortune, o Brasil possui apenas cinco empresas. Já a China (que aparece no relatório sobre a competitividade em 87º), possui 32 empresas e espera chegar a meta de 150 na próxima década. O Brasil não tem esse objetivo traçado de forma clara, segundo os debatedores.
Para ser mais competitivo, o Brasil precisará oferecer conhecimento, pois este é o modelo econômico atual. Vale lembrar que, hoje, a principal pauta de exportações são os produtos agrícolas e minerais.
No entanto, o modelo econômico baseado em conhecimento requer uma elevada formação científica e tecnológica das nações, e, conseqüentemente, para tornarem-se extremamente competitivas no mercado globalizado. Alcançar um bom nível de capacitação científica e tecnológica é fundamental. ”Que tipo de educação nós temos? Os estudantes sequer dominam o português”, disse Boechat.
Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), divulgados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostraram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56 países).
Outro dado preocupante foi apresentado pela Universidade de Brasília. Pesquisa realizada pela instituição mostrou que a maior parte dos cientistas dos países ricos trabalha em empresas privadas. No Brasil, ao contrário, eles se concentram em universidades, a maioria mantida com dinheiro público. Esse contexto é ruim para as empresas brasileiras por um motivo simples: a pesquisa é paga pelo governo e não se traduz em inovação para o setor privado.
Fonte: redeGIFE ONLINE
24/03/08