O presidente e CEO do Business for Social Responsibility (BSR), Aron Cramer, acompanha o movimento da responsabilidade social e da sustentabilidade desde quando passou a fazer parte da equipe da organização em 1995. De lá para cá, ele considera que houve avanços significativos na conscientização das empresas e do próprio movimento nas Américas. Cramer, que estará no Brasil para participar da reunião do Conselho Internacional do Instituto Ethos, evento integrante da Conferência Internacional 2008, faz na entrevista que segue um balanço destes anos e acredita que no cenário atual, de profundas mudanças ambientais, não é possível mais pensar em negócios desprezando a sustentabilidade.
Instituto Ethos – O movimento da responsabilidade social se iniciou nas Américas nos anos 90. Passados mais de dez anos, como você considera a evolução deste movimento?
Aron Cramer – Não tenho dúvidas de que é um movimento muito bem-sucedido. Basta olharmos em termos quantitativos e teremos uma idéia do que ocorreu. Nos anos 90, havia nos Estados Unidos e na América Latina cinco organizações que difundiam a responsabilidade social, entre elas o BSR, o Fórum Empresa, o Instituto Ethos e o Peru 2021. Hoje, são 22 organizações em todo o continente. Isso dá uma grande visibilidade ao movimento, à exposição de idéias sobre a relação das empresas com a sociedade. Neste aspecto, é bastante significativo o número de organizações. É interessante também observar que a responsabilidade social se insere na problemática histórica e social de cada país, ou seja, é um movimento que conseguiu se adaptar e encontrar pontos de contato em vários contextos na América Latina, nos Estados Unidos, no Canadá, o que prova, de certa forma, sua pertinência e atualidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, um dos temas mais discutidos é saúde. Na América Latina, há muitas questões relativas à redução da pobreza, das desigualdades. Nesse sentido, a forma como se discute a responsabilidade social varia de país para país.
IE – A sustentabilidade progressivamente se impõe como um desafio para as empresas. Em que medida este fator vai alterar o ambiente de negócios?
AC – As empresas estão sendo obrigadas a pensar em prazos mais longos e não só em si próprias, mas na relação que mantêm com a sociedade e com o meio ambiente. Num cenário de profundas alterações ambientais, de mudanças climáticas, não se pode pensar em negócios dissociados deste contexto. Se quiserem manter-se no mercado, as empresas também deverão pensar no bem-estar da sociedade, o que inclui preservar recursos naturais, usá-los de maneira adequada sem comprometer este bem-estar. Desta forma, a sustentabilidade é um conceito que ajuda a pensar no futuro de uma maneira mais ampla, e isso não ocorria há alguns anos. É preciso, porém, que esta preocupação também atinja as esferas políticas de modo decisivo, porque as empresas dependem de mudanças de atitudes neste âmbito. Para analisar os avanços nas empresas, é necessário levar em conta fatores internos às organizações como o aumento do número de lideranças que se sensibilizam para essas questões e fatores externos, como a pressão social por transparência, que se traduz em uma maior necessidade de prestação de contas por parte das empresas, pressões do mercado financeiro -que quer garantias para investimento no longo prazo- e também de consumidores e da mídia.
IE – Que tendências você observa em empresas que procuram incorporar a sustentabilidade como prática de negócios?
AC – Acredito que uma das tendências mais marcantes é a percepção de que a sustentabilidade não é um custo para o negócio, muito pelo contrário: ela é capaz de gerar bons resultados e crescimento. Vejo que há empresas que se preocupam em ter a sustentabilidade como valor de negócio e pensam nisso desde a estratégia do desenvolvimento de produtos até a relação com os vários stakeholders. A sustentabilidade passa assim a ser pensada como fator de criação de valor para as empresas, integrando-se em várias práticas de gestão, inclusive em setores que, aparentemente, não estavam diretamente vinculados a este tema. Pensar a sustentabilidade estrategicamente é uma questão que passa pela integração dos vários modelos de gestão vigentes numa empresa. Há uma tendência geral de integração de gestão da responsabilidade, da governança corporativa, da comunicação com os stakeholders num processo comum, unido pela sustentabilidade.
IE – De modo geral, a sustentabilidade não é um processo simples para as empresas. Em que medida se pode falar em progressos nesta área?
AC – De fato, não é fácil mudar sistemas. É difícil também dizer que os exemplos podem ser generalizados para os vários setores empresariais. Mas as mudanças nesta área são rápidas e o intercâmbio de experiência tem propiciado o avanço da sustentabilidade no meio empresarial. O setor de tecnologia da informação, por exemplo, que teve grande impulso nos últimos 20 anos, já está bastante avançado, porque também sua presença na economia é recente e tem mais facilidade de se adaptar. O setor de energia faz grandes esforços, apesar de sua atividade – principalmente no caso da energia que vem do petróleo- ser muito controvertida.
Fonte: Instituto Ethos
26/2/2008