*Jorge Gerdau Johannpeter
Agir de forma socialmente responsável é uma prática consolidada no mundo empresarial. Porém, o desafio que hoje se apresenta é o de avançar nesta prática em todos os relacionamentos de uma empresa, visando maior desenvolvimento sustentável e inclusão social. Para tanto, não basta apenas realizar ações filantrópicas, focadas na maioria das vezes no apoio às comunidades da empresa. Necessitamos ir além.
A construção de uma atuação social mais empreendedora passa por um novo modelo de gestão, que internalize o tema em todos os processos de uma organização, permitindo que ela avance em novas oportunidades de negócio e numa maior participação no desenvolvimento da sociedade. O resultado é um ciclo virtuoso gerador de crescimento, sempre tendo como base o compromisso com o desenvolvimento sustentável.
Para exemplificar, destaco iniciativas na área de microcrédito, como sendo uma maneira eficaz de fornecer recursos a pessoas carentes que, de outra forma, não poderiam obter um financiamento.
Um dos pioneiros nessa área foi o economista Muhammad Yunus, que criou em Bangladesh o Grameen Bank, em 1976. O objetivo era oferecer crédito barato à população – na época, o PIB per capita era de US$ 370. Em dezembro de 2007, o banco somava 7,4 milhões de clientes e cobria mais de 94% do território do país. O Grameen Bank ajudou a combater a pobreza no país e colaborou com a implantação de um sistema sustentável de aumento da demanda. Ao final de 2007, o PIB per capita do país chegou a US$ 1,7 mil. Não por acaso, Yunus recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2006.
No Brasil, embora já existam programas de microcrédito, o potencial é ainda pouco explorado. Apenas 3,6% dos microempresários que poderiam utilizar esse tipo de financiamento o fazem atualmente. Dados da Fundação Getúlio Vargas mostram que os benefícios do sistema são claros: os empreendimentos que tiveram acesso ao microcrédito cresceram 101% no lucro líquido num período de 24 meses; já aqueles fora do sistema registraram aumento de cerca de 30%.
Ainda um outro exemplo, agora na integração da responsabilidade social com os funcionários, são os importantes resultados que o trabalho voluntário organizado traz para os indivíduos e toda a sociedade.
Iniciativas como essas demonstram que a responsabilidade social corporativa pode e deve ser empreendedora. É importante que cada empresário, ao avaliar o alcance de seus negócios, reflita, especialmente, sobre a sua cadeia produtora, tanto na área de suprimentos como na área de vendas, e encontre possibilidades de crescimento de mercado com uma visão de inclusão. Essa atitude é positiva para todos, pois amplia as chances de expansão do negócio e inclui no circuito econômico pessoas que não faziam parte das cadeias de valor. Com medidas dessa natureza construiremos um sistema mais justo e sustentável.
JORGE GERDAU JOHANNPETER, 71, é presidente do conselho de administração do grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial.
Fonte: Folha de São Paulo – 03/02/08