Apesar de ser muito explorada pela mídia em geral, a responsabilidade social corporativa ainda é confudida com filantropia, que é apenas um dos elos que compõem uma grande corrente.
Podemos aqui enumerar diversas ações tomadas por empresas em benefício próprio ou da comunidade ao seu entorno, que são realizadas isoladamente, mas que não transformam essas empresas em corporações socialmente responsáveis. Isso porque cada ação representa apenas um dos elos da responsabilidade social corporativa (RSC). Em muitos setores da economia brasileira, políticas e práticas de responsabilidade social já fazem parte do cotidiano gestor e da realização dos negócios. Mas este grupo ainda é pequeno.
Outros setores apenas engatinham nessa questão e não valorizam, até o presente momento, a nova forma de relação das companhias com os seus diferentes públicos – os elos da corrente composta por acionistas, colaboradores, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade e governo. Por conseqüência, estão atrasados no ingresso ao sistema empresarial moderno. Elas podem estar naquele grupo de empresas que pensam que são socialmente responsáveis porque, uma vez por mês, distribuem cestas básicas às creches que estão no seu entorno.
Exemplos
Um setor muito importante para a economia brasileira é o de cosméticos, que exemplifica bem como organizações podem impulsionar todo o seu mercado e sua cadeia produtiva ao aderir a este importante modelo de gerenciamento ético e transparente. Antes, porém, deve-se ter em mente que responsabilidade social corporativa define-se pelo estabelecimento de atividade empresarial associada ao desenvolvimento da sociedade de maneira sustentável, respeitando e valorizando seus recursos humanos e naturais. A sua meta central está relacionada à melhoria da qualidade de vida, ao bem-estar dos cidadãos e à diminuição da desigualdade social.
Na indústria de cosméticos, pelo menos um dos três itens ligados ao objetivo final da implementação de práticas de RSC está intimamente relacionado à qualidade de vida. Gerar qualidade de vida é um diferencial desse setor. Portanto, a aplicação de práticas e políticas de responsabilidade social nas empresas do segmento é de altíssimo valor agregado.
Duas sólidas empresas nacionais, O Boticário e Natura, são exemplos inquestionáveis. A atuação destacada de ambas no crescimento sustentável influenciam todo o seu mercado, fazendo com que os seus integrantes – sejam de produtos ou serviços – lancem também publicamente as suas ações de responsabilidade social: um efeito generoso para toda a cadeia. O fato é que tanto Natura como O Boticário acabam transmitindo voluntária ou involuntariamente para o seu grupo de relacionamento a necessidade de se posicionar de maneira ética e transparente para o bem da sociedade.
São aspectos fundamentais para a construção de políticas de desenvolvimento sustentável: a possibilidade de todos compartilharem das conquistas da empresa; o envolvimento do capital humano e gestor, no que se refere à preservação dos sistemas ecológicos; a busca pelo crescimento econômico; enfim, tudo que, em uma somatória, atenda às necessidades sociais e corporativas.
Não há obrigatoriedade legal de qualquer setor para a implementação das práticas de RSC. Porém, há, naturalmente, uma cobrança da sociedade – composta por consumidores de produtos e serviços de empresas e setores econômicos. O caso da indústria de cosméticos é exemplo expressivo do que representa desenvolver atividades e ações de responsabilidade social.
Análises
Um primeiro estudo realizado pela BDO Trevisan, entre 2005 e 2006, mostrou que a maioria das organizações não possuía políticas especiais relacionadas ao tema. Também de acordo com a pesquisa, o assunto era ainda tratado com muita reserva pelas empresas e, às vezes, até como certo tabu. Outro dado mostrava que há um distanciamento das organizações com as boas práticas empresariais, no que se referia ao uso destas como forma de incentivos fiscais para atividades ligadas à cultura: 56% das empresas informaram que não o fazem. Uma pena! Estímulo à cultura também é item importante dentro da RSC.
Recentemente concluímos o 2º Estudo BDO Trevisan de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) 2007, que foi realizado entre dezembro de 2006 e março de 2007 com dados coletados entre 113 empresas de vários setores. O resultado foi bastante positivo em relação ao estudo anterior. A BDO Trevisan preparou um questionário com 44 perguntas, que foram enviadas a 700 corporações dos setores de indústria, comércio, serviços, educação, associações e organizações do Terceiro Setor.
Entre todos os questionários enviados, apenas 16% foram respondidos. Apesar de ser pequeno o universo das respostas, o percentual cresceu 45% em relação ao último estudo, concluído em 2006, sendo que 90% das respostas vieram dos setores indústria (47%) e serviços (43%). A pesquisa mostra também que a maioria das empresas reserva verbas para ações socioambientais: 73% dos entrevistados confirmaram a necessidade de um planejamento orçamentário para o desenvolvimento de projetos de RSC.
Demandas
O objetivo da pesquisa é mostrar ao público em geral um retrato de como as corporações e seus gestores lidam com os conceitos de responsabilidade socioambiental. As organizações e seus líderes já perceberam que, em um futuro bem próximo, não haverá lugar para empresas e negócios isolados dos conceitos de sustentabilidade, de preocupação com os grupos de interesse – os chamados stakeholders – e dos conceitos de pilares básicos de sustentação da governança.
A preservação ao meio ambiente é outro elo importante para a cadeia da empresa socialmente responsável. A mídia tem falado muito ultimamente sobre aquecimento global e soluções alternativas para a preservação do nosso futuro. No mundo globalizado dos negócios globalizado, empresas socialmente responsáveis de outros países só negociam com corporações brasileiras que tenham a preocupação com o meio ambiente e que desenvolvam ações para a preservação do mesmo. Um ótimo exemplo é o setor sucroalcooleiro, que está sendo foco de interesse pelos investimentos estrangeiros.
Um investidor internacional não vai depositar o dinheiro dele, por exemplo, em uma usina que explora a mão-de-obra do menor de idade ou que provoque queimadas, emitindo CO2 na atmosfera, ou ainda que desmate áreas de preservação para plantar a cana. Antes de investir, os empresários observam atentamente onde vão aplicar seu dinheiro e optam por empresas que demonstram, por meio de relatórios de sustentabilidade, todas as ações que são ambiental e socialmente responsáveis.
Enfim, os elos da responsabilidade socioambiental têm de estar ligados de ponta a ponta para proporcionar o bem-estar dos stakeholders e garantir a real sustentabilidade corporativa.
Por: Mauro Ambrósio
Fonte: Revista Filantropia – OnLine – nº135