Levantamento específico sobre ação social do setor privado realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta para um paradoxo: embora tenha subido de 59% para 69% o percentual de empresas com investimento social em todo o país, o montante dos recursos para esse fim diminuiu em 2,2 bilhões em quatro anos.
Segundo Anna Maria Peliano, diretora de Estudos Sociais do Ipea e coordenadora da pesquisa, uma das explicações está no baixo crescimento do PIB em 2003 – de 0,54%. “O porte da empresa, sua lucratividade e o crescimento da economia influenciam decisivamente na decisão de auxiliar a comunidade”.
Outros dois fatores importantes também foram identificados. Em primeiro lugar, o aumento das micro-empresas (com até 10 funcionários) no rol de organizações doadoras – em 12 pontos percentuais. Em seguida, Anna diagnosticou que muitas optaram por alternativas distintas ao financiamento, como o trabalho voluntário e a doação de materiais.
“A entrada de pequenas empresas aumentou o número de investidores, mas não necessariamente o montante de recursos. Enquanto isso, não conseguimos aferir o quanto essas empresas destinaram ao optarem pelo voluntariado ou mesmo cederem materiais à comunidade, pois não calcularam isso no questionário”, explica a diretora do Ipea.
A segunda edição da pesquisa Ação Social das Empresas contou com uma amostra de 4.109 empresas, sendo 2.032 do Sudeste e 2.077 do Nordeste, selecionadas no cadastro do Ministério do Trabalho e Emprego. E considerou ação social qualquer atividade que as empresas realizam, em caráter voluntário, para o atendimento de comunidades nas áreas de assistência social, alimentação, saúde, educação, entre outras.
Regiões – Pelo universo de aproximadamente 930 mil firmas existentes no país, 600 mil fazem doações ou apóiam programas estruturados por regiões, de forma diferenciada. De acordo com dados do Ipea, foi no Sul que se observou o maior incremento na proporção de empresas atuantes, que passou de 46%, em 2000, para 67%, em 2004, o que equivale a um aumento de 21 pontos percentuais.
O Nordeste, por sua vez, que aumentou sua atuação em 19 pontos (de 55% para 74%), ultrapassou, ligeiramente, o Sudeste que, em 2004, contava com 71% de participação. Finalmente, a região Norte apresentou uma expansão de 15 pontos percentuais (de 49% para 64%), seguida do Centro-Oeste, com um crescimento de 11 pontos no período (de 50% para 61%).
Os números foram bem recebidos pelo Ipea, já que apontam um equilíbrio nos investimentos sociais do setor privado pelo país. “O movimento que começou mais forte no Sudeste, passou a ser incorporado em outras regiões. Isso é muito positivo”, acredita Anna Peliano.
Foco – Quanto às áreas de atuação, o destaque mostrado pelo Instituto foi o crescimento das ações voltadas para alimentação, que se torna a área prioritária de atendimento (52%), ultrapassando as ações voltadas para assistência social (41%).
Questionada sobre a influência de programas como o Fome Zero, do Governo Federal, Anna Peliano é enfática: “as parcerias com o Estado são quase inexistentes. Mas, sem dúvida, ações de combate à fome, seja em âmbito nacional como internacional, foram importantes para pautar a agenda social”.
Nesse contexto, a opção por doações assistenciais é mais comum por duas razões levantadas pela pesquisadora: demanda e poder de investimento. Segundo ela, as empresas trabalham a partir de uma determinada necessidade de sua comunidade. Somado a isso, coloque-se o papel das micro-empresas, que não possuem recursos para desenvolver programas contínuos. “Quem tem projetos processuais, como os de educação, são as grandes empresas”, lembra.
Já em relação ao público-alvo, o atendimento à criança continua a ser o foco principal das empresas (63%), mas cresce, de maneira expressiva, o desenvolvimento de ações em prol de idosos e portadores de doenças graves, que passam a envolver, respectivamente, 40% e 17% das empresas.
Incentivos – Uma das novidades desta segunda edição foi a investigação sobre o que dificulta ou impede o desenvolvimento de ações sociais comunitárias: para 62% das empresas, a principal razão é a falta de dinheiro. Uma parcela bem menor reclama da ausência de incentivos governamentais (11%).
Para Anna, um ponto a ser levado em consideração é a pequena proporção de empresas que não atua porque nunca pensou nessa possibilidade (5%) ou porque acredita que este não seja seu papel (5%). “Esses números são muito baixos, o que demonstram uma maior conscientização do setor privado sobre suas responsabilidades sociais”.
Rodrigo Zavala
31/07/06