A aspiração final de toda entidade social deveria ser desaparecer – mas apenas depois de conseguir que suas causas tenham originado políticas públicas de relevância, o que só se consegue com um forte trabalho de advocacy. Quem defende essa ideia é Iradj Roberto Eghrari, gerente executivo da Ágere, organização especializada em advocacy para o terceiro setor. “A organização tem de ficar feliz em desaparecer, pois conseguiu deixar um legado para o poder público”, comenta.
Tal como defendido por Eghrari, o advocacy é uma atividade que une diversas frentes: campanhas, trabalho com a mídia, mobilização da opinião pública e lobby junto ao Executivo, ao Legislativo e ao Judiciário. “É se envolver em um causa com princípio, meio e fim”, resume. E o fim é justamente criar uma política pública permanente, abraçada pelo governo. “Não adianta ter experiência de ação e isolá-la das políticas públicas”, afirma a diretora executiva da Associação Brasileira de Organizações não Governamentais, Vera Masagão.
Um dos principais obstáculos à prática, no entanto, está no próprio poder público. Seguidos escândalos acabaram gerando uma descrença em relação à classe política, com quem é fundamental se comunicar para conseguir mudanças abrangentes. Além disso, o Brasil esbarra na juventude de sua democracia, com pouco histórico de mobilização social e uma Constituição de apenas 24 anos. O cenário é muito diferente, por exemplo, daquele dos Estados Unidos e de parte da Europa, onde a estabilidade democrática criou uma tradição de advocacy.
Longo prazo
O contato frequente, e às vezes conflituoso, com o poder público espanta algumas entidades. “Muitas não querem ficar ‘mal’ com o governo”, afirma a diretora executiva da Abong. Outro desafio para as ONGs é ter uma visão que mescle curto e longo prazos. Para Vera, as organizações sociais devem ter uma dupla atuação: por um lado, o atendimento pontual no dia a dia; por outro, o advocacy.
A questão é que, muitas vezes, as entidades trabalham com um horizonte de resultados mais concretos e imediatos, até mesmo para ter o que mostrar a seus financiadores. “O advocacy tem impactos mais difíceis de avaliar, dá resultados menos palpáveis”, diz Vera. E, ainda por cima, é um tipo de ação que precisa de tempo. “Às vezes, leva-se uma década para conseguir algo, mas o investimento vale por 100 anos”, comenta Eghrari.
Por tudo isso, muitas organizações ainda não utilizam essa prática, ou a fazem de maneira equivocada. “Existe a ilusão de que a entidade tem um amigo deputado, e que ele vai ajudá-la, mas não há como conseguir tocar uma agenda assim”, afirma o representante da Ágere. E estar em contato com o poder público, principalmente o Federal, demanda dinheiro. “Não adianta fazer apenas visitas, tem de estar em Brasília”, avalia Eghrari.
Uma alternativa é atuar em redes. “O advocacy é muito difícil de ser feito isoladamente, e ação política é articular pessoas”, afirma Vera. Ela lembra ainda que a atuação conjunta tem rendido frutos concretos em temas como educação e direitos de crianças e adolescentes.
Perfil
Mas qual perfil deve ter quem trabalha com advocacy? Não há uma formação específica. Para Eghrari, que é engenheiro, o fundamental é “ser apaixonado pela causa”. Vera salienta a importância de ter características quase de um político. “A pessoa precisa mobilizar, defender ideias, ir para a arena política, criar agendas, costurar consensos”, enumera.
Fonte: Portal IDIS