Metodologia vai custar US$ 800 mil e será feita em parceria.
*Silvia Torikachvili
As empresas cobram resultados, a sociedade quer transparência, o governo exige prestação de contas e a mídia insiste: afinal, com tantos recursos descarregados nos investimentos sociais, onde estão os benefícios?
Para capacitar organizações sociais a avaliar e monitorar suas atividades, o BID (Banco Internacional de Desenvolvimento) em parceria com a Parceiros Voluntários começa a desenvolver uma metodologia específica para o Terceiro Setor. A Parceiros é uma instituição social que trabalha com 2.300 empresas e 3.200 organizações sociais e foi eleita pelo BID por seu histórico de capacitação de gestão das ONGs.
A ação da parceria, que se der certo pode resultar em indicadores e mais transparência na prestação de contas, foi disparada no final de novembro, está orçada em US$ 800 mil e envolve 50 organizações sociais. O processo está dividido em duas etapas. Na primeira, 25 organizações terão 18 meses para desenvolver indicadores que servirão como base para as outras 25. O processo tem duas etapas porque eventuais problemas da primeira fase poderão ser corrigidos e ajustados na segunda. O programa piloto terá três anos de duração e, ao final, deverá estar apto a fornecer as informações que a sociedade demanda.
– Estamos inaugurando a rotina da avaliação dos resultados dos investimentos sociais- comemora Maria Elena Johannpeter, presidente da Parceiros Voluntários.
– As empresas querem saber para onde vai o dinheiro investido e se a comunidade beneficiada evolui – concorda Luciana Botafogo, especialista do Fundo Monetário de Investimentos do BID.
De fato, cada vez menos as empresas estão investindo a fundo perdido ou pagando apenas para garantir o marketing. Agora os empresários querem resultados concretos do dinheiro que investem.
O projeto BID-Parceiros Voluntários é inédito. Seu mais importante resultado será a Certificação em Princípios de Prestação de Contas e Transparência para as organizações sociais. Preocupada com esses novos tempos em que as organizações sociais podem enfrentar mais barreiras para captar recursos, Maria Elena vê com entusiasmo a possibilidade de mensuração de resultados.
– As organizações sociais precisam ostentar credibilidade para que, em caso de alguma recessão, o primeiro corte não seja necessariamente no terceiro setor – disse – As ONGs precisam ser reconhecidas e respeitadas em sua real importância; representam 5% do PIB brasileiro e constituem o setor que mantém uma grande ordem na sociedade.
Desenvolver os princípios da prestação de contas nessas 50 ONGs gaúchas, para que a metodologia seja depois replicada pelo país, entusiasma Luciana Botafogo, do BID:
– As empresas precisam receber respaldo para seus investimentos. Querem garantias de que o dinheiro está sendo investido em organizações sociais transparentes, que não vão desviar nem fazer uso indevido dos recursos, nem explorar mão de obra infantil ou trabalho escravo. Tudo isso deve ficar claro na prestação de contras.
Fortalecer as organizações sociais pode ser a resposta para incentivar ainda mais os investimentos das empresas, na opinião de Luciana Botafogo. Para tanto, o projeto está dividido em quatro módulos. O primeiro vai elaborar as bases da prestação de contas e transparência a partir do atual status das ONGs gaúchas. Três grandes eixos vão orientar essa análise: responsabilidade no cumprimento de compromissos, informações confiáveis e ações nos prazos estipulados.
O BID acredita que o momento para desenvolver a prestação de contas no terceiro setor é oportuno:
– O objetivo do projeto é gerar boas práticas. Não basta que as organizações tenham boas intenções; é preciso que sejam também éticas e reconhecidamente eficientes – disse Luciana.
Maria Elena, da Parceiros Voluntários, também crê que o desenvolvimento dessa tecnologia chega na hora certa, quando o Terceiro Setor atravessa um momento crítico:
– A rotina do acompanhamento do investimento social pode ser o diferencial – disse Maria Elena, ao lembrar que, no Rio Grande do Sul, as ONGs têm possibilidade de participar de cursos de gestão, que podem ser a ponte para chegar à prestação de contas.
Falta de Informação e tradição na prestação de contas, portanto, podem estar com dias contados.
Fonte: Jornal O Globo
Data: 05/01/2009
Página: 22