*Rodrigo Zavala
Não são poucos os especialistas e investidores sociais em educação que quebram a cabeça para descobrir como as novas tecnologias de informação e comunicação podem potencializar o ensino. Em uma sociedade em que o conhecimento se dá cada vez mais por redes, as escolas parecem ainda refratárias ao potencial dos recursos tecnológicos mais atuais.
Para refletir sobre esse tema, foi realizado o 1º Fórum do Instituto Claro, uma iniciativa da empresa de telefonia móvel com apoio do CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária. Com o tema “Tecnologias, aprendizagem e desenvolvimento humano”, os convidados debateram os desafios impostos à escola, em especial à pública, no que diz respeito à apropriação da linguagem por estudantes e professores.
“Nós falamos de novas tecnologias, mas, como educadores, pensamos nas mesmas questões discutidas há 70 anos”, afirmou o secretário executivo da Rede CEP – Comunicação, Educação e Participação, Alexandre Sayad, durante debate promovido na tarde de hoje, 06 de julho.
Segundo ele, como em outras vezes no passado, o ensino foi posto em xeque, pois houve uma mudança dos processos cognitivos nas gerações mais jovens, obrigando a uma revisão das metodologias de aprendizagem. “A cristalização do conhecimento, que antes era oral, agora se dá por multimeios, cada vez mais midiática. A educação formal não pode escapar disso”, comentou.
Nativos
O professor Paulo Gileno Cysneiros, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), fez coro a Sayad, dizendo que os “alunos de hoje” podem ser definidos como “nativos digitais”, enquanto que grande parte da classe docente é considerada migrante. “Diferentemente do que estávamos acostumados, essas crianças trabalham de forma multimodal, em que música, TV e computador se complementam”, reconheceu.
Enquanto isso, na escola, Cysneiros argumentou que existe um abismo. “Conheço escolas onde novas tecnologias são mais utilizadas, mas não como instrumentos de mudanças significativas, constituindo o que chamo de inovação conservadora“. Ele chama de conservadora a mudança cosmética, cujo resultado é uma melhoria técnica da exposição.
“Uma aula expositiva não muda muito pelo fato de ser dada através de uma tela de computador, podendo até ser pior do que ao vivo. Livros didáticos pobres não se tornarão melhores por apresentarem um design gráfico atraente, fotos coloridas e infográficos”, garantiu.
Protagonismo
Uma mudança só é real quando existe uma apropriação da linguagem tecnológica, em que professores e estudantes são protagonistas da construção de conhecimento por meio dela. Essa foi a defesa da professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Elizabeth de Almeida, especialista convidada para compor a mesa de debates do fórum.
As inovações pensadas pela docente só poderão ser incorporadas a partir de uma revisão completa dos currículos escolares. “Currículo em grade, como é comum, é uma camisa de força para o ensino. É preciso pensar um processo pedagógico mais amplo e interdisciplinar”, disse.
Para José Manuel Moran, professor no Instituto Sumaré de Ensino Superior, é preciso, no entanto, tomar cuidado com essas mudanças. “As escolas são as mediadoras oficiais do conhecimento, e passamos a não saber mais como mediar esse novo aprendizado. O que, em si, é um conflito, pois metodologias podem afastar ainda mais os estudantes, que podem vê-las como obsoletas e autoritárias”, advertiu.
Instituto
O 1º Fórum do Instituto Claro é uma das iniciativas da organização homônima para estimular o uso de novas tecnologias na educação. “Sabemos que não somos a única organização a trabalhar com o tema. Por isso, criamos espaços como este para difundir e trocar experiências”, lembrou a vice-presidente do Instituto Claro, Carime Kanbour. Veja outras iniciativas do Instituto.
Fonte: GIFEonline – 06/7/2009