Perguntas incomodam.
A sensação que temos é que somos todos reféns dos senhores que dominam e exploram o consumo das drogas. Enquanto suas políticas de venda da cultura da morte são sustentadas por uma ação organizada em detalhes, nossas ações são pontuais, emergenciais, acontecendo quando somos colocados diante do flagelo. A perda de filhos ou de uma escola sitiada por traficantes escancara nossa fragilidade. Quando será que esse jogo virará? A industria da droga vai muito bem. A relação produção e consumo nem de publicidade precisa. Vendedores e compradores estão em todos lugares. Eles circulam perto das favelas, shoppings, escolas de bairros populares ou nas cercanias de colégios onde estudam jovens com rendam familiar que lhes permitiram alçar outros caminhos. A droga dá prazer? É preciso responder a isso com alternativas sadias e com uma política de educação que vá além do palestrismo ou discursos moralistas. Convenhamos que ninguém merece essa viagem que apenas convence no primeiro momento.
Falta-nos políticas públicas que associem a relação entre repressão e prevenção. Os papéis precisam estar delimitados. A abordagem em quem trafica a droga fora da escola, por exemplo, não pode ser papel do professor. A escola previne ao estabelecer um conjunto de regras que passam pela relação saudável internamente. É preciso falar sobre isso sem demagogia ou moralismo. Todos os professores precisam ser capacitados na difícil arte de identificar um experimentador eventual daquele que vende e trafica dentro dos muros da própria escola. Alguma novidade nessa afirmativa? Assim como o crack invadiu a juventude de maior poder aquisitivo sem pedir licença, a droga está presente em todos os segmentos sociais. Escolas com políticas claras sobre prevenção conseguem hoje identificar os sinais que quebram os pactos da normalidade nas relações entre pares e seus educadores. Traficantes não aceitam tutelas. Consumidores são seus grandes defensores. Esses possuem onze, doze, quinze, dezessete anos, uma idade para pensar que a vida pode mais do que um prazer fugaz, cujo final pode ser o fundo do poço. Todos os usuários e abusadores foram um dia simples experimentadores.
Onde termina esse limite entre experimentar, usar e abusar? Existe uma guerra para ser travada. Uma luta sem tréguas e de entrega completa. Se foi preciso um choque de mídia para nos sacudir, tenhamos a humildade para reconhecer e valorizar tal empenho.
É hora de trazermos para nossas discussões e planejamentos educacionais o tema do valor da vida. Se vital sabermos como funciona o mudo da cultura da morte chamado drogadição, necessário é pensar na construção de uma comunidade que consuma os conceitos do altruísmo e da solidariedade. Assim como é fácil identificar os fatores de risco que conduzem para o mergulho na droga, urgente é focar nossa ação nos fatores de proteção.
Proteger é dever de Estado, tarefa policial. Proteger exige adultos, pais e mestres convencidos que crianças e jovens aprendem com aquilo que seus olhos captam. Crack , nem pensar. O desafio para sair do fundo do poço é de todos nós.
Carlos Alberto Barcellos
Professor