· Alguma outra pergunta?
· Sim, Professor: Que é um professor? Ou, quem é um professor?
· Humm (pausa)
· (Risos)
· (Escreve ao quadro negro:)
· Professor, Mestre. E, portanto, está aqui: ensinar. Creio que aqui aparece este conceito. O que é ensinar? Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Sim, se alguém abre a porta desta sala… (desloca-se até a porta, simula ouvir alguém que bate à porta, e então se desculpa, e diz a outro alguém:) “Nesta sala está o Professor Humberto Maturana ensinando Biologia do Conhecer” (desloca-se de volta): Eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer? Em um sentido, com relação à responsabilidade perante a Faculdade, eu lhes ensinei a Biologia do Conhecer.
· (Risos) – Mas o que fizemos nós ao longo deste semestre?
· Desencadear mudanças estruturais.
· Desencadear mudanças estruturais, desencadear perturbações. E como fizemos isso?
· Em coordenações de coordenações de ações.
· Em coordenações de coordenações de ações. Ou seja: vivendo juntos. Claro, uma vez por semana viver juntos uma hora, uma hora e meia, duas horas, ou, alguns estudantes, que permaneceram comigo mais horas … Isso era viver juntos. Vocês podem dizer: “Sim, mas eu estava sentado escutando”. Isso se estavam verdadeiramente escutando, como espero.
· (Risos) – Estavam sendo tocados, alegrados, entristecidos, enraivecidos … Quer dizer, se passaram todas as coisas do viver cotidiano. Mexeram com as idéias, rejeitaram algumas. Sairam daqui conversando isto e mais aquilo. “Estou fazendo um trabalho”. Estavam imersos na pergunta: “Como prosseguir? ” de acordo com o que lhes ia passando, vivendo juntos, comigo, em um espaço que se ia criando comigo Continued.” Então, qual foi a minha tarefa? Criar um espaço de convivência.. Isto é ensinar.
Bem, eu ensinei a vocês. E vocês, ensinaram a mim?
· Sim!
· Claro que sim! Ensinamo-nos mutuamente. “Ah, mas acontece que eu tinha a responsabilidade do curso, e ia guiando o que acontecia”. De certa forma, sim, de certa forma, não. De certa forma, sim, porque há certas coisas que eu entendo da responsabilidade e do espaço no qual me movo nesta convivência, e tinha uma certa orientação, um fio condutor, um certo propósito. Mas vocês, com suas perguntas, foram empurrando esta coisa para lá, e para cá, e foram criando algo que foi se configurando como nosso espaço de convivência.
E o maravilhoso de tudo isso é que vocês aceitaram que eu me aplicasse em criar um espaço de convivência com vocês. Vocês se dão conta do significado disso? Foi exatamente igual ao que ocorreu quando vocês chegaram, como crianças, ao jardim de infância, e estavam tristes, emburrados, a Mamãe se foi, estão chorando, “AaaaH, eu quero minha mãe”, e chega a professora, e oferece a mão, e vocês a recusam, mas ela insiste, e, então, vocês pegam sua mão. E o que se passa quando a criança pega na mão da professora? Aceita um espaço de convivência. Com vocês se passou a mesma coisa. Em algum momento, aceitaram minha mão. E, no momento em que aceitaram minha mão, passamos a ser co-ensinantes. Passamos a participar juntos neste espaço de convivência. E nos transformamos em congruência… De maneiras diferentes, porque, claro, temos vidas diferentes, temos diferentes espaços de perguntas, temos experiências distintas. Mas nos transformamos juntos, e agora podemos ter conversas que antes não poderíamos.
E quem é o professor? Alguém que se aceita como guia na criação deste espaço de convivência. No momento em que eu digo a vocês: “Perguntem”, e aceito que me guiem com suas perguntas, eu estou aceitando vocês como professores, no sentido de que vocês me estão mostrando espaços de reflexão onde eu devo ir. Assim, o professor, ou professora, é uma pessoa que deseja esta responsabilidade de criar um espaço de convivência, este domínio de aceitação recíproca que se configura no momento em que surge o professor em relação com seus alunos, e se produz uma dinâmica na qual vão mudando juntos.
Humberto Maturana
Texto traduzido de trecho da aula de encerramento de Humberto Maturana no curso Biologia del Conocer, ( Facultad de Ciencias, Universidad de Chile), em 27/07/90.
Gravado por Cristina Magro, transcrito por Nelson Vaz.