Na quarta-feira passada (14/7), saiu no portal IG o resultado de uma pesquisa feita pelo Grupo Santander Brasil, com quase 1.500 empresas clientes e fornecedoras da instituição. Elas integram o programa “Sustentabilidade na Prática – Caminhos e Desafios”, que foi desenvolvido pelo banco para disseminar a responsabilidade social empresarial na cadeia de valor.
Iniciado há três anos, o programa inclui um treinamento intensivo de representantes de empresas de diversas áreas, com o objetivo de ajudá-los a inserir os conceitos de sustentabilidade em seus negócios, com avaliações periódicas sobre a evolução da compreensão e da prática a respeito dos temas relevantes à gestão socialmente responsável.
“Trabalhar nesse nível de profundidade com um número tão grande de empresas foi uma oportunidade única, quase impensável no mercado, de conhecer o estágio em que se encontra a aplicação da sustentabilidade nos negócios Brasil afora”, diz Maria Luíza Pinto, diretora-executiva de Desenvolvimento Sustentável do Santander e responsável pelo programa. “Para os participantes também foi algo de grande valor, porque eles recebiam relatórios customizados que os ajudavam a conhecer suas próprias deficiências. Além disso, tinham a possibilidade de traçar paralelos com outras organizações e transportar a aplicação de soluções sustentáveis para seus próprios negócios”, completa.
Durante o período, a pesquisa avaliou a mudança no comportamento dos quadros executivos e dos funcionários das empresas participantes em relação a oito temas principais: interesse em sustentabilidade; gestão e governança; visão, missão e valores; negócios e clientes; funcionários; fornecedores; meio ambiente; e ação social. Em todos os temas, houve variação para cima no desempenho declarado pelas empresas.
As respostas mostraram que, ao longo do tempo, as empresas se tornaram mais comprometidas com o desenvolvimento sustentável, mais criteriosas em aspectos socioambientais na contratação de fornecedores, mais respeitadoras da diversidade e mais transparentes.
O levantamento verificou que os profissionais evoluíram muito no que tange à absorção da importância de se adotar boas práticas ambientais básicas, como intensificar a coleta seletiva no ambiente de trabalho, economizar energia e papel e assim por diante. O aumento do interesse pelos temas ambientais e pela sustentabilidade atinge tanto o corpo executivo das empresas quanto o quadro de funcionários.
Entre a alta gerência, a porcentagem de quem considera a sustentabilidade importante dentro da empresa saltou de 65%, captado no início da pesquisa, para 82%, no final dela; entre a média gerência, esse índice subiu de 50% para 72%; entre os funcionários que não ocupam cargos executivos, a variação foi de 35% para 58%. “Este é um ponto a se comemorar, já que não basta haver comprometimento da alta direção para que uma empresa adote práticas sustentáveis profundas. É necessário disseminar o conhecimento sobre o assunto e contar com o apoio em todos os escalões da organização, o que é uma tarefa bastante desafiadora”, diz Maria Luíza Pinto.
A pesquisa também avaliou, nestes três anos, a evolução das respostas dadas à pergunta “Existe treinamento de sustentabilidade para funcionários?” Os dados aqui também são animadores. O “sim” aumentou de 18%, no início do processo, para 41%, no final. Para a pergunta “A empresa monitora a redução de seus impactos ambientais com metas específicas?”, 51% das respostas foram positivas. No mesmo período, a adoção de critérios socioambientais por parte dessas empresas na escolha de seus próprios fornecedores variou de 19% para 44%.
O estudo não serviu apenas para identificar em quais desafios as empresas estão se saindo melhor. Ele também indica quais são os maiores entraves na busca pelo desenvolvimento sustentável. No balanço dos levantamentos realizados entre 2008 e 2009, encontraram-se 890 menções a dificuldades observadas. Os pontos considerados críticos foram o processo de conscientização e mudança da cultura interna, com 13% das menções, o engajamento dos colaboradores, com 10%, e a falta de envolvimento da alta direção, com 9%.
A iniciativa pioneira do Santander de repassar sua experiência na busca pela sustentabilidade a seus fornecedores e clientes é louvável em todos os aspectos. “Nossa jornada pela sustentabilidade foi difícil, com erros e acertos, buscando uma coerência diária entre o discurso e a atitude. Hoje, temos certeza de que estamos no caminho certo e queremos compartilhar nossas práticas e conhecimentos para ajudar outras empresas a encurtar o percurso em direção ao desenvolvimento sustentável, com comprometimento e verdadeiras mudanças de atitude”, comenta Maria Luíza.
Esses resultados merecem reflexão, devendo ser encarados com otimismo. De fato, constatam que aumenta a preocupação, entre os empresários ouvidos, de adotar em grande escala algumas boas práticas fundamentais para o desenvolvimento sustentável.
No entanto, para a maioria das empresas brasileiras a “consciência sustentável” nos negócios e na sociedade está mais associada às tendências ambientais do que às dimensões sociais e éticas. Elas já começam a perceber as incontáveis oportunidades abertas por uma economia emergente que busca integrar os processos de produção aos serviços da natureza, valorizando estes últimos, preservando os ecossistemas e entendendo-os como a base material da produção, aumentando a ecoeficiência e respeitando os limites do planeta. Mas apenas essa perspectiva não é suficiente para a sustentabilidade. Será preciso agregar as demandas sociais e éticas a essa nova e crescente economia para termos um desenvolvimento sustentável de fato, que distribua melhor a riqueza, garanta oportunidades para todos e valorize as comunidades. E também mude as relações sociais, pois onde há desigualdade não há ética nem sustentabilidade.
As empresas, um dos setores mais poderosos e organizados da sociedade, têm a condição e até mesmo o imperativo moral de liderar essa transformação. Se não for pelo idealismo de construir uma sociedade mais justa, que seja pelas imensas oportunidades que as mudanças trarão para os negócios. Afinal, ao falarmos de sustentabilidade, estamos falando, em termos práticos, do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias, da substituição total ou parcial de praticamente todos os produtos e serviços existentes, bem como da reestruturação da quase totalidade do parque industrial em operação atualmente. Não dá para perder esse trem-bala!
Por Cristina Spera e Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos)