Compartilhar é a oportunidade única de dividir momentos e somar experiências. O ser humano é solitário por natureza. Nasce, pensa e morre sozinho. Os momentos de convivência, de troca, de afeto e amizade oferecem satisfação e a sensação de felicidade.
Somos seres sensoriais. Vivemos a partir das sensações percebidas, prazer e dor, calor e frio, tristeza e alegria, etc. Desta forma, podemos eleger as sensações pelas quais vamos pautar nossa vida. Algumas pessoas escolhem se isolar e buscam resultados por si e para si; outras mergulham em seus problemas e vivem numa ininterrupta sucessão de dificuldades financeiras, amorosas ou familiares. Há ainda as pessoas que procuram realização na experiência alheia, um amigo, um filho ou um ídolo. Entretanto, as pessoas que mais fortemente vivem sensações realizadoras são as que estão dispostas a compartilhar com outras. Cada vez melhor se reconhece o valor da liderança, o trabalho articulado em times, o poder do associativismo.
Nessa sociedade pode se desenvolver mais rápido e de forma mais intensa quando descobrirmos a força transformadora da atividade voluntária. Não é apenas caridade, é um processo de apoio e resultado conjunto. O sistema de voluntariado não é simplesmente atividade beneficente, mas sim ação orientada para resultados segmentados. Por exemplo, uma associação de classe, o condomínio residencial, o sindicato e, evidentemente, a entidade filantrópica. Toda a estrutura social que utiliza capacidade e trabalho ao remunerado e flexível é uma atividade voluntária.
A sociedade organizada está baseada no governo (e suas instituições), no mercado e o terceiro setor, entidades de caráter voluntário. No Brasil, esta experiência é recente, limitada e, muitas vezes, mal compreendida. Só para citar algumas referências, nos Estados Unidos, o voluntariado representa 33% de toda a atividade social, na Inglaterra, 34%, na França, 30% e o Brasil, apenas 8,8%.
Nós, brasileiros, acreditamos que voluntariado é unicamente caridoso. Via de mão única. Um dá, outro recebe e não há retorno real. Outra falácia é a crença que temos em exercer atividade voluntária no tempo que sobra. Nossa percepção é que voluntarismo é para ajudar os outros.
A realidade dos países socialmente melhor organizados mostra que a atividade voluntária é uma experiência transformadora da sociedade e do indivíduo que realiza a ação. Relatos de intensa satisfação, percepção de valor o que faz, alegria em compartilhar, conquista de novos amigos, e por aí afora, são freqüentes entre as pessoas que exercem uma atividade voluntária. É o poder de efetivamente fazer A diferença.
Entretanto, para alcançar resultados eficazes, é preciso ter consciência que o voluntariado é uma experiência de progresso para todos os participantes do sistema, o agente e a comunidade favorecida. Quando realizamos uma atividade voluntária, descobrimos mais sobre a natureza humana e, conseqüentemente, a respeito de nós mesmos. Toda transformação se dá a partir da compreensão; assim, na medida que percebemos mais fortemente nossa própria realidade, mais mudança nos permitimos e melhor encaminhamos nossas soluções de vida.
Entendido desta forma, o voluntariado é instrumento poderoso de construção de nossa felicidade pessoal e social. Sendo assim, não é realização para o tempo que nos sobra e sim parte integrante e importante de nossa agenda. Minimiza nossa vivência solitária na vida, nos ensina sobre nós mesmos e transforma nossos resultados. É via de mão dupla, onde quem ajuda é ajudado.
Os resultados são sempre muito visíveis; basta observar as pessoas que participam da associação de classe, do condomínio, da entidade beneficente. Estas são as que têm a melhor rede de contatos, são mais flexíveis no trato com as pessoas, desenvolvem a habilidade de ouvir e de buscar resultados compartilhados.
Para finalizar, cito um depoimento de um amigo que foi presidente de uma associação: “Descobri a delegação, o planejamento, a gestão do tempo, a humildade e conquistei os melhores amigos do mundo. Foram dois anos que valeram uma vida”. Onde mais você pode aprender tudo isso?
Dulce Magalhães
Consultora Empresarial e escritora do Livro: Mensageiro do Vento Agosto, 2004.