Reduzir custos e aumentar lucros são os fatores pelos quais as empresas estão adotando políticas de sustentabilidade em suas estratégias de negócio.
Por Paulo Itacarambi*
Duas pesquisas internacionais dão respostas diferentes quando se pergunta se a sustentabilidade é realmente importante para as empresas e se elas estão investindo nisso. Uma delas, feita pela consultoria britânica Verdantix com 250 líderes de sustentabilidade em empresas globais de 13 países, aponta que a sustentabilidade é importante, mas não agora. A outra, levada a cabo pelo Massachusetts Technology Institute (MIT) e pelo Boston Consulting Group (BCG), com 2.300 executivos de grandes corporações, diz que a sustentabilidade é cada vez mais importante.
No primeiro caso, a Verdantix deixou os CEOs de fora desse estudo de maneira proposital, para penetrar “na pele da corporação” e entender como de fato estão caminhando os negócios em relação à sustentabilidade. A pesquisa buscou informações a respeito da relevância do tema na estratégia do negócio, as motivações que levam a adotar (ou não) a sustentabilidade e o volume de investimentos.
O que atrai os CEOs para a sustentabilidade?
Ambas as pesquisas concordam que é a redução de custos que atrai os CEOs para a sustentabilidade. Dos executivos entrevistados pela Verdantix, 90% afirmaram que os argumentos mais convincentes para um CEO liberar recursos para um projeto de sustentabilidade são a redução de custos na empresa e o aumento do lucro.
A tendência, segundo a pesquisa MIT/BCG, é essa mesmo: a sustentabilidade está sendo utilizada pelas empresas como forma de reduzir custos e aumentar lucros. E é por esses fatores que as empresas estão efetivamente adotando políticas de sustentabilidade em suas estratégias de negócio.
O investimento total em sustentabilidade está crescendo?
Essa é outra conclusão coincidente nas duas pesquisas. A Verdantix apurou que quase metade das empresas investe 1% das receitas em iniciativas de sustentabilidade; 28% das empresas investem entre 1 e 2%; e 26% investem mais de 2% das receitas. Essas verbas acabam destinadas principalmente para a elaboração de relatórios de sustentabilidade e para ações de certificação. A Verdantix considera baixo esse investimento. Entretanto, se analisarmos o investimento médio das empresas em inovação, veremos que os valores investidos em um e outro são muito próximos. A sustentabilidade é um assunto ainda novo para as empresas.
A Booz & Company, em sondagem de 2012, mostra que a média dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento das grandes corporações gira também em torno de 1%. É claro que há empresas que investem acima de 10%, pela própria natureza do negócio, como é o caso dos setores de TI e de Saúde.
A pesquisa MIT/BCG mostra, por outro lado, que o número de empresas que investem em sustentabilidade e relatam lucro está crescendo, passando de 23%, em 2011, para 37%, em 2012.
A verdade é que as duas pesquisas olham metades diferentes do mesmo copo. Uma olha a metade que está enchendo (MIT/BCG) e a outra, o que está faltando (Verdantix).
Por que a sustentabilidade é importante, mas não agora?
Segundo o estudo da Verdantix, a importância do tema nas decisões estratégicas é menor do que o interesse que o discurso oficial da empresa faz parecer. Metade dos entrevistados afirmou que o CEO “empurra” o assunto para um futuro distante, sob a justificativa de que se trata de investimento de longo prazo ou de que ainda é algo muito novo na empresa. Todavia, 90% dos entrevistados acreditam que esse cenário começará a mudar a partir de 2015, quando a sustentabilidade estará mais em relevância.
Os recursos existem, estão em algum lugar
A sustentabilidade pode ser importante para a empresa, mas isso não significa que os recursos estejam alocados ou disponíveis para as áreas de sustentabilidade. As despesas com projetos de sustentabilidade estão dispersas em várias áreas. Por isso, a execução desses projetos depende dos líderes desses setores, e não dos líderes em sustentabilidade, o que é bom, pois a sustentabilidade precisa estar incorporada em todas as áreas do negócio. Os investimentos em sustentabilidade precisam de fato ser feitos pelas áreas de Produção, Relacionamento com Clientes e Relacionamento com Fornecedores, entre outras.
O líder em sustentabilidade ainda não tem um “lugar” na empresa
Como o tema ainda é novidade na agenda das empresas, não há projetos apropriados nem descrição de cargo para quem cuida do assunto. Com isso, as funções e o poder dos executivos responsáveis pelas decisões de sustentabilidade variam de empresa para empresa. Esse fato também pode ser considerado positivo, pois, se as áreas de negócios estiverem incorporando o tripé em seus processos, produtos e serviços, pode não ser necessário ter um cargo específico de sustentabilidade.
Serviços contratados
Para verificar a adesão à sustentabilidade, a Verdantix também verificou, na sua pesquisa, quais os serviços que as empresas estão contratando das consultorias.
Constatou que 90% delas contratam consultorias para projetos de natureza técnica, como relatórios de sustentabilidade, análise de riscos, inventário de emissões de gases de efeito estufa e responsabilidade na cadeia de fornecimento. As preferidas são Ernst & Young, KPMG, Deloitte e PwC, porque os executivos reconhecem nelas qualidades fundamentais como capacidade técnica, eficácia no tempo, conhecimento sobre regulação e custo comparado.
O restante das empresas (10%) buscam consultorias para serviços de gestão, como: estratégia; risco e marca; desempenho ambiental e inovação. As preferidas são Accenture, MacKinsey e Bain.
Entre as organizações sem fins lucrativos, as preferidas são: o Carbon Disclosure Project (CDP), uma ONG formada por grandes investidores institucionais de todo o mundo, que detém a maior base de dados mundial sobre emissões de carbono das companhias e a gestão empresarial de mudanças climáticas; e a Global Reporting Initiative (GRI), ONG sediada na Holanda que desenvolveu (e continua desenvolvendo) uma estrutura de relatórios de sustentabilidade que pode ser aplicada por empresas de qualquer porte ou natureza, em qualquer parte do planeta.
Em resumo, as empresas estão dando preferência para as organizações com atuação internacional.
No Brasil
Entre os países abrangidos pela pesquisa, o Brasil é o local onde as empresas apresentaram a maior despesa média em consultoria de sustentabilidade: R$ 6,1 milhões por empresa.
Os setores com maiores despesas em iniciativas de sustentabilidade são: mineração, papel e celulose; petróleo e gás; e alimentação e bebidas; bem como distribuição de energia e de água.
As empresas brasileiras estimam gastar, em 2013, US$ 12,6 bilhões com consultorias; 90% dessa quantia serão despendidos com consultorias técnicas e 10% com consultorias em gestão. Entre os países pesquisados, o Brasil apresenta a segunda maior despesa em consultorias de gestão, atrás apenas dos Estados Unidos.
Por fim, a Verdantix listou algumas dicas para o sucesso de uma consultoria em sustentabilidade, a partir das demandas das empresas:
• Compreender as preferências das empresas;
• Ter paciência e saber antecipar os negócios imprevistos;
• Investir numa equipe central de excelência;
• Desenvolver habilidades específicas;
• Não esperar grande cobertura da mídia;
• Conduzir uma autoavalição honesta da qualidade técnica
• Ter um plano de negócios bem feito; e
• Ter foco.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente do Instituto Ethos.