Causou surpresa, na última semana, uma pesquisa da Fundação Itaú Social com o Instituto Fonte que traçou um panorama da avaliação de projetos nas organizações sociais no Brasil. Segundo o estudo, 91% das organizações avaliaram projetos nos últimos cinco anos, sendo que 26% destas encaram a avaliação como ferramenta estratégica no planejamento e aprendizagem do próprio projeto.
Elaborado em parceria com o Instituto Paulo Montenegro e a realização do IBOPE Inteligência, o levantamento mostrou uma mudança de comportamento das organizações. Afinal, há pouco menos de dez anos, esse percentual era ínfimo.
Para o vice-presidente da Fundação Itaú Social, Antonio Matias, o estudo revela que houve uma mudança de paradigma. “No passado, realizar a ação social bastava, não se dava importância em avaliar os resultados de seus próprios projetos. Isso mudou”, diz.
A imagem otimista também transparece para profissionais do Instituto Fonte, como Daniel Brandão, um dos responsáveis pela pesquisa. “Ela mostrou que nos últimos anos, a avaliação saiu do debate e foi para a prática”, acredita.
No entanto, Brandão lembra que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. Quando os dados são esmiuçados, mostra-se que, desses 91% que avaliaram, 85% fizeram esse trabalho internamente. Apenas 22% delegaram a tarefa a equipes externas à organização – isto é, a pessoas não relacionadas com as ações a serem analisadas.
Na mesma linha, os dados sobre a motivação mostram que ainda há espaço para amadurecimento. Apenas 26% das ONGs ouvidas encaram a avaliação como ferramenta estratégica no planejamento e aprendizagem do próprio projeto; 33% delas vêem a iniciativa como ferramenta de promoção de seus projetos, 18% como obrigação formal e burocrática e 23% como desperdício de tempo e de recursos.
Segundo Daniel Brandão, estes dados mostram os pontos de intervenção a serem atingidos. “Atuar para fortalecer o sentido e a utilidade da avaliação junto a essas organizações é fundamental para ampliar a potência desta atividade na gestão estratégica do campo social”, afirma.
Faz sentido, se avaliar é estratégico ao apoiar a gestão e a tomada de decisões, ajudar a corrigir rumos, identificar erros e acertos, verificar a realização de objetivos, mostrar resultados no público do projeto e gerar credibilidade, tratá-la como mero instrumento burocrático é incorrer em um erro dramático.
Para Antonio Matias, o fortalecimento da cultura de avaliação no Brasil é essencial para que as avaliações sejam usadas como instrumentos de gestão e possam aprimorar os investimentos sociais. É também uma forma de dar transparência e eficiência ao uso dos recursos. “Quanto mais avaliarmos as políticas e os programas sociais de organizações privadas, ONGs e governos, melhor preparados estaremos para enfrentar adequadamente os desafios sociais do país”, afirma.
Os principais desafios apontados pelos que avaliam projetos são, nessa ordem, a construção de indicadores, o envolvimento dos públicos do projeto na avaliação, o desenvolvimento de instrumentos, a coleta de informações, a análise dos resultados e a captação de recursos.
Abrangência nacional
A pesquisa teve abrangência nacional, sendo representativa do universo das organizações da sociedade civil brasileira. Foram realizadas 363 entrevistas eletrônicas no período de julho a setembro de 2009. Os resultados ponderados mostram a seguinte representação geográfica: 53 % da Região Sudeste; 21% da Região Sul; 14% da Região Nordeste; 8% da Região Centro Oeste e 4% da Região Norte.
Com relação ao tipo de atuação observa-se que 58% das organizações atuam somente com a execução de projetos, 40% com execução e financiamento e 2% somente com
financiamento.