A ação social corporativa não precisa necessariamente ser financeira ou ocorrer na forma de visitas a creches ou distribuição de cestas de alimentos. Pode estar diretamente ligada a seu ramo de atuação, naquilo que é conhecido como “business know how”: a empresa usar seus conhecimentos em prol dos outros.
Foi isso, por exemplo, que guiou o trabalho pro bono do escritório Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados. “Começamos essa atividade em 1999, por iniciativa de um dos sócios, Roberto Quiroga, que decidiu fazer trabalho voluntário relacionado àquilo que o escritório sabe fazer melhor: prestar serviços jurídicos”, explica a advogada e sócia da empresa Flávia Regina, que participa do projeto desde o começo e é sua coordenadora.
As etapas cumpridas pelo Mattos Filho são uma boa indicação de como esse tipo de trabalho pode ser feito. O primeiro passo foi organizar um grupo e pesquisar como era a prática nos Estados Unidos. Depois, foi definido o foco: organizações da sociedade civil que não tinham como pagar por serviços jurídicos. Inicialmente, os próprios funcionários indicavam entidades que conheciam.
“Recebemos uma série de indicações e começamos a fazer visitas para escolher as organizações que receberiam ajuda”, conta Flávia. A regra para poder pleitear a ajuda é a entidade ser regularmente constituída, apresentar balanço financeiro e relatório de atividades.
Dos cerca de 320 advogados do escritório, em torno de 60 participam regularmente das atividades pro bono, voltadas principalmente para as áreas tributária, societária e de contratos. “As questões tributárias são particularmente complicadas. As organizações menores não têm acesso a todas as informações, e a ajuda é muito importante para elas”, afirma a coordenadora.
Em 2013, foram dedicadas 4 mil horas de serviços jurídicos para esse tipo de atividade. “O trabalho é considerado para termos de avaliação de performance e de bônus dos profissionais”, destaca Flávia. Os casos são oferecidos na intranet do escritório, para que os advogados escolham algum para atuar.
A coordenadora do programa afirma ter um ótimo retorno por parte dos advogados que participam do pro bono: “É uma relação mais pessoal, humanizada, é um cliente que chora e que abraça”.
De certa forma como um desdobramento dessa atividade, o escritório acabou criando uma das primeiras – e até agora poucas – bancas de atuação especializadas em consultoria jurídica para o terceiro setor.
Propaganda
Em um ramo de negócios completamente diferente, a DPZ, uma das mais famosas agências de publicidade do país, também adere à ação social por meio do business know how. “A DPZ sempre considerou extremamente importante a participação de forma voluntária em campanhas engajadas às causas sociais”, diz Roberto Duailibi, um dos fundadores.
A agência faz esse tipo de trabalho desde a década de 70, e já produziu alguns trabalhos clássicos, como peças publicitárias para a Fundação SOS Mata Atlântica, para a Campanha do Agasalho e para os Doutores da Alegria. “Nossa expertise é fazer boa propaganda, e transferimos isso para esses trabalhos sociais, voluntários”, diz Duailibi.
Há até um braço informal dentro da agência, a DPZ Cidadã, que concentra essas atividades: “Empregamos as mesmas pessoas, tempos e formas de atuar de nossos trabalhos pagos. Conseguimos planos de mídia igualmente voluntários e gratuitos e nunca medimos o quanto isso poderia ter custado.”
A participação dos funcionários, assim como no escritório de advocacia, é entusiasmada. “Se alguém se recusar a fazer, iremos respeitar, mas nunca vimos um caso assim. As pessoas abraçam as causas, vestem a camisa, até porque sempre atuamos em temas de grande relevância e apelo social”, finaliza Duailibi.
Fonte: IDIS