Considerados como uma das ferramentas fundamentais para o desenvolvimento local, os programas de microcrédito alcançam apenas 1% de seu público potencial em todo o Brasil. As razões para o baixo grau de penetração dessas iniciativas são, na visão de especialistas, a falta de informação da população, problemas de gestão das instituições creditícias e a inexistência de uma política nacional coerente.
Segundo o diretor do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), Manuel Thedim, ainda persiste no país um entendimento equivocado sobre o que seja microcrédito, considerado erroneamente apenas como um “empréstimo de pouca monta”. Trata-se, na verdade, tal como defende o especialista, de um “crédito voltado a empreendedores com acesso restrito a empréstimos adequados ao seu perfil de renda e ciclo produtivo”.
Em outras palavras, tratam-se de empréstimos a pessoas físicas ou jurídicas rejeitadas pelo setor bancário, por não apresentarem garantias tangíveis para o pagamento da dívida. Por essa razão, grande parte das instituições creditícias é formada por Organizações da Sociedade Cilvil de Interesse Público (Oscips) e Sociedades de Crédito ao Microempreendedor, com a missão de estimular a geração de renda e postos de trabalho para o desenvolvimento econômico da região em que atuam.
Nessas iniciativas atuam os chamados Agentes de Crédito, que fazem um completo levantamento sobre os negócios candidatos a receber empréstimos, por meio de entrevistas locais, na comunidade em que os microempreendedores vivem e fazem negócio. “Eles traduzem o negócio informal em dados analisáveis. Constróem um balanço patrimonial, fluxo de caixa e até uma estrutura financeira familiar, já que esses negócios se mesclam, muitas vezes, ao orçamento de seus lares”, explica Thedim.
As facilidades apresentadas para quem busca o microcrédito parecem atrativas, exceto para seu público-alvo. As pouco mais de 200 Oscips e sociedades creditícias registradas pelo Ministério da Justiça mantém, segundo estimativas aproximadas aferidas por Thedim, 320 mil créditos ativos. “Se cruzarmos esses dados com os mais de 20 milhões de possíveis microempreendedores (que trabalham por conta própria) contabilizados pelo Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), o alcance ainda é irrisório”, argumenta.
Com a falta de pesquisa sobre a atuação dessas instituições, as explicações para o pequeno grau interesse na obtenção de microcrédito se centravam no desconhecimento generalizado sobre o tema. No entanto, estudo lançado pela Fundação Itaú Social e pelo Iets, aponta que as razões são mais complexas.
Ele teve como base em uma análise realizada com instituições inscritas para o Prêmio Itaú de Apoio ao Empreendedor 2005, que teve por objetivo identificar, divulgar e apoiar o trabalho de Oscips creditícias. No total, foram analisadas 39 iniciativas (19% das 207 entidades existentes) por todo o país, abordando temas como infra-estrutura, produtos ofertados, eficiência, crescimento e sustentabilidade.
Entre as principais conclusões destaca-se que o setor está em expansão. No entanto, uma análise mais detalhada dos indicadores de resultado operacional indica que essa expansão, tanto da rede de atendimento como da demanda, não tem se traduzido integralmente em ganhos econômicos do ponto de vista da atividade fim das instituições, isto é, da concessão de empréstimos.
“É preciso fortalecer essas instituições. Elas apresentam problemas de gestão e não trabalham de forma articulada. Um dos frutos do Prêmio, nesse sentido, é a construção de uma rede institucional para potencializar a aplicação de recursos do banco Itaú em Micro-crédito”, afirma o vice-presidente do banco, Antonio Matias.
Outro dado proveniente do diagnóstico realizado por meio do prêmio apontou se essas instituições atendiam os empreendedores de mais baixa renda. O valor médio dos empréstimos realizados pelas 39 instituições pesquisadas foi de R$ 1.640,00 e a mediana é de 1.237.
Esse indicador mostrou uma relação inversa entre o valor médio dos empréstimos e o tempo de funcionamento das instituições. O mesmo ocorre com o tamanho da organização, isto é, quanto maior o número de créditos ativos, menor o valor dos empréstimos. “Esse resultado reforça a conclusão anterior de que o crescimento de uma Oscip de microcrédito está vinculado ao atendimento a clientes menos estruturados”, conclui a pesquisa.
Setor bancário – Além do Itaú, outros bancos começam a incorporar em suas operações bancárias iniciativas ligadas à microcrédito, aos moldes das realizadas pela sociedade civil organizada. É o caso do ABN Amro Real que recentemente inaugurou um posto de atendimento da Real Microcrédito nas cidades pernambucanas de João Pessoa (PE) e Campina Grande.
A proposta do programa é oferecer atendimento personalizado para entender a situação do cliente e identificar suas necessidades, além de assessoria para todo o processo de solicitação do crédito. Segundo o superintendente dessa iniciativa, José Giovani Anversa, o projeto tem cerca de 17.165 clientes ativos e um total de 26.800 operações realizadas desde o início das atividades, em julho de 2002.
“O objetivo é contribuir para o desenvolvimento das pessoas que possuem pequenos negócios gerando emprego e renda nas próprias comunidades. Com a abertura dos postos de atendimento em João Pessoa e em Campina Grande, nossa perspectiva é aumentar em 300% o total de transações concretizadas”, destaca o executivo.
Atualmente, a Real Microcrédito está em toda a periferia de São Paulo, Campinas (SP), Rio de Janeiro (Baixada Fluminense), Caruaru, Aracajú, Campina Grandre, João Pessoa, Maceió, Natal, Recife, São Luís, Teresina. A meta para 2007 é atingir 55.000 clientes ativos, totalizando uma carteira de cerca de R$ 80 milhões.
O Citigroup, por outro lado, em parceria com as Ongs ACCIÓN International e Gaia (Grupo de Aplicação Interdisciplinar à Aprendizagem), lançou a 4ª Edição do Prêmio Melhores Microempreendedores. O objetivo é reconhecer microempreendedores de todo o Brasil que se destacaram pelo sucesso alcançado em seus negócios e pela contribuição na busca da sustentabilidade de suas famílias e das comunidades onde estão inseridos. “Esta iniciativa estimula os pequenos negócios de sucesso e prestigia aqueles que dão o exemplo a outros milhares de pessoas”, afirma o CEO do Citigroup no Brasil, Gustavo Marin.
Este ano serão distribuídos R$ 51 mil entre os nove empreendedores vencedores, divididos em três categorias: comércio, produção e serviço. Os premiados também participarão de um curso em Gestão de Negócios, e as cinco instituições que mais enviarem projetos qualificados serão premiadas com uma capacitação. Ambos os cursos serão ministrados pela Fundação Getúlio Vargas.
O prêmio é aberto à participação de pessoas físicas e jurídicas. As inscrições podem ser feitas até o dia 31 de agosto. A ficha de inscrição e o regulamento do prêmio estão disponíveis no site, www.citi.com.br. Mais informações poderão ser obtidas no telefone (11) 4009-2004, com Cleidiane Matos, ou pelo e-mail responsabilidade.social@citi.com.
Fonte: RedeGIFE Online – 16/07/07
Matéria: Rodrigo Zavala