Em busca de eficiência pedagógica na rede pública de ensino, profissionais envolvidos com educação chegaram a um consenso: dentro de uma escola, todos devem ser constantemente avaliados. Alunos, professores, supervisores e diretores devem estabelecer metas e, nesse contexto, serem recompensados por seus êxitos.
A opinião é compartilhada pelos economistas Eduardo Giannetti, PhD pela Universidade de Cambrigde, e o irlandês Dan OBrien, editor sênior da unidade de inteligência da revista The Economist. Ambos participaram, a convite da Fundação Lemann, de uma palestra em São Paulo, em que foram provocados a responder a seguinte questão: por que o brasileiro tem uma baixa propensão a enfrentar os problemas educacionais do país?
A pergunta tem como pano de fundo um panorama dramático. O Brasil fica persistentemente em último ou penúltimo lugar em exames internacionais como o Programa de Avaliação Internacional de Estudantes (Pisa) da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), entre os alunos de 15 anos em 41 países ricos e pobres. Pior: cinco décadas separam a educação brasileira da de países emergentes como a China e a Coréia. A comparação com os países ricos é ainda mais constrangedora: nesse caso, o atraso equivale a 120 anos.
“E esses resultados não refletem apenas a realidade das escolas públicas. Mesmo os estudantes das particulares mostram um grau muito baixo de proficiência. Isto é, a elite, na Brasil, também ocupa os últimos lugares de qualquer avaliação internacional”, criticou Gianetti. As razões para essa realidade são as mais diversas na opinião do economista, a começar pelo processo de colonização.
No entanto, ele destaca dois processos históricos fundamentais para entender o país. Em primeiro lugar, a não identificação do ensino como motor para o desenvolvimento. Giannetti dá como exemplo o celebrado economista brasileiro Celso Furtado, autor do livro A Formação Econômica do Brasil, considerado uma espécie de “bíblia” para quem estuda o desenvolvimento do país. “Em nenhuma das centenas de página você encontrará qualquer referência à educação. É como escrever Hamlet sem um príncipe dinamarquês”, afirmou.
O segundo ponto foi mostrado por Dan OBrien, que fez coro a Giannetti, ao dizer que o padrão de desenvolvimento brasileiro privilegiou o capital físico ao humano. “Não parece haver um sistema inteligente para cobrar os resultados. Pensa-se mais no número de escolas e de uniformes. A Irlanda só conseguiu melhorar seus índices de ensino, quando estabeleceu metas pedagógicas e esperou pelos resultados ao longo de décadas”, lembrou. Segundo ele, como se tratou de um pacto nacional, a iniciativa sobreviveu aos mais distintos governos, como exemplo de política de Estado.
Para o diretor executivo do Instituto Braudel de Economia Mundial, Norman Gall, no Brasil, o debate sério para superar o fracasso das escolas mal começou. “Uma nova janela de oportunidade para a reforma escolar abriu-se nas últimas semanas, quando o governo federal anunciou um Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). É a primeira vez que o financiamento federal é ligado a indicadores de desempenho”, afirma.
Ele lembra as propostas promovidas pelo empreendedor bilionário e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que mudaram as educação na cidade. Entre as mais importantes, estavam: mais autoridade para os diretores e mais prestação de contas; aumentar a supervisão das salas de aula e fornecer professores altamente capacitados; exames e avaliação constantes; e envolvimento dos pais e do setor privado.
“A reforma do ensino envolve iniciativas como essas para desenvolver lideranças e a avaliação , assim como para reestruturar incentivos. Esses esforços geralmente são controversos, exigindo um certo grau de pressão pública e consenso político para que se estendam além de uma única administração governamental ou de um ciclo eleitoral”, explica.
Segundo ele, o que está em questão é a capacidade de Estados modernos operarem sociedades complexas. “Muitas ineficiências na vida pública do Brasil corroem essa capacidade. Talvez o maior obstáculo para a melhoria das escolas brasileiras seja a falta de um gerenciamento de nível médio intermediário competente e dedicado para traduzir intenções políticas em ação, transformar gestos em gestão”, completa.
Fonte: www.gife.org.br
Rodrigo Zavala