* Jorge Gerdau Johannpeter
A prosperidade de uma sociedade é resultado da sua atitude empreendedora e capacidade de inovação. Ambos os conceitos, portanto, estão intimamente ligados, e a competição no comércio internacional tem sido vencida pelos países que melhor unem essas duas habilidades. Quando se fala de inovação, muitas vezes, essa idéia nos remete à descoberta de um determinado produto ou serviço. Entretanto, ela também pode ocorrer em processos – industriais, de marketing, de logística, entre outros – que, geralmente, rompem as barreiras do conservadorismo, reduzem custos e permitem um maior acesso da população a bens e serviços.
Apesar dos esforços nessa área terem sido intensificados no Brasil, ainda estamos muito aquém nessa corrida. Para se ter idéia, o País investiu cerca de US$ 33 bilhões em P&D no ano de 2006, enquanto a China bateu os US$ 140 bilhões, a Índia, US$ 58 bilhões, e os Estados Unidos, US$ 320 bilhões. Um indicador clássico, o número de patentes requeridas por país, demonstra que, no mesmo período, a China requereu dez vezes mais patentes que o Brasil, segundo consultorias internacionais.
Uma das causas desse atraso é o distanciamento histórico entre os meios empresarial e acadêmico que, felizmente, tem diminuído, com destaque para a atuação do Ministério de Ciência e Tecnologia. Mas talvez essa aproximação entre universidades e empresas não esteja se dando com a rapidez necessária que a realidade mundial exige. Vale lembrar que os países mais prósperos são aqueles em que a inovação se traduz em benefício para a vida real, ou seja, sai das universidades e é aplicada pelas empresas, de diferentes segmentos da economia.
Para aproximar ainda mais as universidades do meio empresarial é preciso construir contratos inteligentes, de forma que ambos os lados ganhem com isso. A Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) é um bom exemplo: o seu sucesso, além do quadro de bons pesquisadores, está na proximidade com o campo, isto é, com os potenciais usuários das tecnologias que desenvolve.
Sem dúvida, o Brasil ainda tem um longo caminho pela frente. Mas o importante é que a inovação e a inquietação da atitude empreendedora devem estar presentes em cada um de nós. Será que no Brasil a administração pública, as empresas e as universidades têm níveis adequados de inovação e empreendedorismo frente à realidade mundial? A resposta é não. O maior limitador do desenvolvimento, seja nas grandes empresas ou no Estado, tem sido a falta de espaço dado ao empreendedorismo e à inovação.
Portanto, ser empreendedor no Brasil não é somente encontrar saídas inovadoras aos obstáculos que impedem o desenvolvimento, como a burocracia, a educação precária e o sistema tributário arcaico. Ser empreendedor pressupõe também verificar o nível de inovação aplicado nas empresas ou instituições e dar estímulos para a formação científica dos jovens. Afinal, o progresso do conhecimento e o crescimento econômico andam juntos.
Jorge Gerdau Johannpeter, 71, é presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, presidente fundador do Movimento Brasil Competitivo (MBC) e coordenador da Ação Empresarial. E-mail: jorge.gerdau@gerdau.com.br
Fonte: Folha de São Paulo
01/04/2009