Rodrigo Zavala
Além de ampliar o raio de parcerias institucionais e focar na incidência em políticas públicas, é imprescindível que as iniciativas sociais sejam norteadas por uma visão de longo prazo e pensadas para replicação em escala. Essas são apenas algumas das linhas-chave para responder o que os gestores sociais têm quebrado a cabeça para resolver: em meio à crise, como maximizar resultados com menos recursos?
As considerações foram as bases do debate promovido pelo GIFE e pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), no último dia 06, em São Paulo. Nele, especialistas docentes do Curso Avançado de Gestão do Investimento Social Privado — uma parceria GIFE e ESPM — diagnosticaram os desafios para o trabalho social a partir de agora.
Durante a tempestade
Para o ex-diretor regional para a América Latina e Caribe da Fundação Kellogg, Francisco Tancredi, é preciso separar o que ocorrerá durante e depois da crise. Por enquanto, o consultor acredita que o setor privado tende a reduzir seus investimentos (os sociais de forma proporcional); daí, a necessidade de maior rigor em suas ações.
“O ISP não irá mudar o mundo. Deve financiar iniciativas criativas, inovadoras e replicáveis para a sociedade. De que adianta um trabalho com 50 jovens a um custo de milhares de reais por mês? Ninguém dará escala a isso, pois não há relação custo-benefício”, afirmou Tancredi.
Essa também é a preocupação da diretora da Oficina de Idéias, Cenise Monte Vicente, consultora do GIFE. Segundo ela, todo e qualquer projeto social deve nascer com o propósito de se tornar uma política pública.
“Se não precisa de escala, o tema não é prioridade para a sociedade. As pessoas se perguntam como um projeto irá começar, mas não como ele terminará. Bom, a resposta é: ele termina quando se torna uma política de Estado”, explicou.
Cenise vê a crise como uma oportunidade para as empresas, pois a redução de recursos fará as estimulará a planejar melhor o destino do dinheiro. “Os investidores passarão a pensar até que ponto é possível levar um programa, com menos recursos e sabendo que um possível desligamento (da ação social financiada) é visto como irresponsabilidade”, disse.
A coordenadora Instituto BM&F Bovespa, Sônia Bruck, questionou o ponto de vista de Cenise e, indiretamente, o grau de maturidade do setor privado frente à área social. Em determinado momento, disparou: “mas isso ocorrerá mesmo? As empresas não farão ao contrário, o mais fácil, o que não precisa de muito planejamento?”.
Como resposta, Cenise Monte Vicente apresentou o que chama de “resiliência corporativa”. Segundo o dicionário Houaiss, resiliência é a “capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças”. No caso da corporativa, como disse a diretora, é a “capacidade de lidar com as adversidades, pensando nas oportunidades”.
Segundo o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, a capacidade de priorização das ações dependerá do grau de institucionalização do ISP dentro das organizações. “Esta é a hora de ver se a preocupação social da empresa é gordura ou cultura”.
Para ele, no primeiro caso, os investimentos são passíveis de cortes mais profundos; no segundo, o ISP passou a ser parte da personalidade da empresa. “Se dá quando a empresa é reconhecida por seu trabalho com educação, juventude ou crianças”, lembrou.
O que é possível aprender?
Qual é a lição que a crise deixa para a área social? Em resposta, o coordenador da ESPM Social, Ismael Rocha, disse haver uma sequência de “nãos” como descobertas. O primeiro vem das empresas, pois não tiveram capacidade de sair da crise com as próprias pernas. “Elas que diziam não ao governo, agora precisam de recursos estatais para sobreviver”, afirmou.
O segundo vem do Governo, que não fez investimentos sociais antes, embora existisse o dinheiro – visto agora com a ajuda à iniciativa privada. Há também o “não” ligado ao terceiro setor, que ainda não conseguiu apresentar o caminho ou uma alternativa para “um mundo mais sustentável”.
No fim, também há o “não” da sociedade, que não está preparada para gerenciar momentos de crise. “Ela (a crise) mostrou que existe ainda uma série de buracos na sociedade”, concluiu.
A diretora de Desenvolvimento Institucional do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), Márcia Woods, afirmou que a situação financeira atual trouxe à tona antigas alternativas de financiamento.
“Temos visto praticas interessantes, como o “cofunding”, em que empresas trabalham juntas em uma determinada causa compartilhando recursos. Além disso, também já vemos fusões administrativas para redução de custos (fundações sendo operadas por outras).
Em autocrítica, o Francisco Tancredi se diz pessimista sobre possíveis lições para um mercado mais ético trazidas pela crise, como as mudanças de paradigmas defendidas pelo movimento de responsabilidade social. “O que se precisa mudar é a idéia de desenvolvimento. Os recursos da Terra servem a 700 milhões de pessoas, mas somos mais de 6 bilhões. Não podemos mais pensar apenas em reciclagem”, argumentou.
Fonte: GIFE Online
Data: 09/03/2009