Já comentamos, em outro Tema do Mês, sobre as dificuldades das organizações em elaborar estratégias. Por isso neste texto temos o objetivo de contribuir para a elaboração de estratégias bem definidas e transparentes, que facilitem o entendimento dos objetivos e propostas da organização pelos colaboradores diretamente envolvidos, bem como pelos possíveis financiadores.
Um bom ponto de partida é esclarecer as diferenças entre os conceitos de missão e visão. Muitas pessoas fazem confusão entre estes dois termos, na hora de descrever a organização.
Para a organização, o mais importante é ter clara qual é a sua missão. A missão resume a própria razão de existir da organização.
Na verdade, a missão descreve em linhas gerais onde a organização vai atuar e qual será seu foco principal. Se a missão não estiver clara, poderá haver problemas de ordem interna – como confusão por parte do corpo funcional e de colaboradores e até mesmo questionamentos como: será que de fato a organização está fazendo o que deveria fazer?
A seguir, apresentamos alguns pressupostos que podem facilitar a elaboração da missão:
(1) A descrição da missão deve considerar o motivo principal que deu origem à criação da organização. No ciclo de vida das organizações, é comum que ocorram mudanças na direção das atividades. Entretanto, uma vez observadas estas mudanças, é aconselhável adequar a missão, de modo que a organização não fuja do seu objetivo principal, mantendo-se fiel ao fator que gerou sua criação.
(2) A missão deve mostrar qual a forma de atuação da organização e sua direção, sintetizando seus principais valores. É fato que algumas organizações, em função da necessidade de recursos, em um dado momento talvez tenham que fazer um projeto que fuja um pouco da sua linha de atuação. Neste caso, alguns autores sugerem que a missão deverá ser reformulada para que não perca o sentido e abranja as novas formas e/ou áreas de atuação da instituição. Entretanto, é fundamental que a organização jamais perca de vista sua razão de ser central, apesar da flexibilidade para eventuais readequações.
(3) Uma missão pode estar amarrada a um determinado período de tempo? Bem, em primeiro lugar não devemos imaginar que uma missão tenha prazo delimitado, pois se for assim estaremos definindo que a organização tem dia e hora para acabar. Em segundo lugar, isso também não quer dizer que não possamos rever a missão da organização. Muito pelo contrário, é saudável que de tempos em tempos a missão de uma organização seja revista. A conotação temporal está ligada mais à visão e não à missão. Assim, é recomendável que a missão não tenha um prazo preestabelecido.
(4) É importante que a missão seja descrita com muita clareza e objetividade, de modo que todos da organização a entendam e que qualquer pessoa de fora compreenda com facilidade a razão de ser da instituição.
A descrição clara da missão facilita a elaboração de estratégias.
Um exemplo de missão clara:
AABPSM – Associação de Apoio a Bebês Prematuros do Hospital Santa Madalena
· Missão: Proporcionar melhor qualidade de vida aos bebês prematuros internados na Unidade Neonatal do Hospital Santa Madalena
Observamos de forma clara que o foco da organização é promover ações para melhorar a qualidade de vida dos bebês prematuros no hospital Santa Madalena. É clara e direta – uma pessoa que não seja da organização consegue entender. Neste caso, também é específica no seu objetivo, pois descreve de forma clara o beneficiário (bebês prematuros) e é pontual na abrangência, pois delimita um local (hospital Santa Madalena).
Um exemplo de missão pouco clara:
AJD – Associação dos Jogadores de Dominó.
· Missão: Promover a disseminação do dominó, melhorando assim a qualidade de vida das pessoas.
Observamos neste caso que a missão é completamente inconsistente. Vejamos:
(1) Não é clara quanto ao objetivo, pois é muito ampla e não tem sustentação. Quem garante que o jogo de dominó pode melhorar a qualidade de vida das pessoas?
(2) Também não há definição quanto ao espaço de atuação da entidade, que pode ser de abrangência local, regional, etc
Vamos continuar avançando e discutir o que deve ser a visão de uma organização.
Ao estabelecermos a visão, devemos sempre ter em mente o que se deseja para a organização no futuro. Definir a visão é descrever os ideais e sonhos das pessoas que compõem a organização para o futuro da mesma.
Estes ideais devem representar grandes desafios, capazes de motivar toda a equipe.
Um bom parâmetro para medir a qualidade da visão, é que esta faça parte da missão da organização. Assim, se a missão for atraente e suficientemente forte para causar transformação social, irá evocar naturalmente uma visão futurista.
Outro ponto que devemos destacar é a importância de a visão ser suficientemente desafiadora – e, ao mesmo tempo, atingível – a ponto de motivar todos os colaboradores. Isso é importante porque mesmo que seja muito difícil atingir os objetivos propostos, os colaboradores precisam ter clareza sobre o caminho que deve ser seguido.
Em resumo, tanto a missão quanto a visão precisam ser descritas com bastante objetividade, de forma a indicar a direção em que organização deve atuar.
Entre as organizações que compõem o terceiro setor, é comum uma certa confusão na descrição da missão e da visão. Entretanto, uma reflexão profunda sobre estes dois conceitos é válida para as organizações. Uma missão clara permite que a organização tenha uma visão de onde quer chegar. Uma visão suficientemente desafiadora e, ao mesmo tempo, atingível, facilita o cumprimento da missão. Bem elaboradas, as duas se complementam.
Fonte: Site Rits – Rede de Informação para o Terceiro Setor
Agosto de 2002
www.rits.org. br