Barry Gaberman*
Todo mundo adora se queixar das crises, neste caso, da crise da economia. Os conceitos derretem e “tsunami” é a palavra mais utilizada para descrever a situação atual. Estamos propensos em acreditar na situação terrível de uma ONG que conhecemos e a generalizamos com as outras. Assim, ficamos um tanto aliviados, se não com certa decepção, quando os dados não confirmam a apreensão.
USA Doar tem analisado os dados dos últimos 40 anos, um período que inclui declínio econômico, recessões curtas e longas (oito meses ou mais de um ano civil). Quando as doações são segmentadas em três categorias de doadores individuais, doações de fundações e doações corporativas é muito difícil, no conjunto, enxergar qual é o motivo de toda esta agitação.
O total doado ajustado à inflação teve um crescimento médio anual de 2,8 %, num período de 40 anos (1967- 2007). Em anos de desaceleração a média diminuiu para 0,8%, ou seja, ainda um crescimento. Durante as curtas recessões, a média teve um declínio de 1% e, durante períodos mais longos de recessão de 2,7 %. Surpreendentemente, os números das fundações não foram muito diferentes, para as corporações.
Agora se você deseja argüir que este declínio econômico é estruturalmente diferente daqueles do passado, que é algo que estamos fazendo, olhando em retrospectiva, geralmente concluí-se que está errado. Sendo assim, todas as apostas estão fora. Mas isto não é algo que estou inclinado a fazer, pelo menos por enquanto. Além do mais, estou propenso a ver o copo meio cheio em vez de meio vazio e o goteio me leva a supor que as tendências básicas que vemos nos EUA são semelhantes as que se vêem em outros países.
Como sempre acontece com dados agregados, o diabo está no detalhe e é por isso que aqui temos alguns pontos que precisam ser analisados e desmembrados. Em primeiro lugar, será que o declínio econômico tem efeitos diferentes em setores específicos como saúde, educação, arte e religião e em setores mais sensíveis como direitos humanos, organizações comunitárias e controle climático?
O segundo tema origina-se no fato de que a filantropia organizada engloba como nunca uma diversidade muito maior que qualquer modelo ou estilo. Qual será o impacto da recessão econômica nas doações através da Internet, na filantropia de risco, nas remessas das comunidades diásporas e daqueles que, na organização das suas vidas provisionaram doar ou dos que fazem parte do movimento “doe enquanto estiver vivo”.
Em terceiro lugar, qual será a conseqüência no incremento das fusões e aquisições corporativas globais nas suas programações de doações? Será que isso significa menos empregados doando menos dinheiro ou a expansão contínua da classe corporativa global responsável será forte o suficiente para segurar as pontas desta tendência? Finalmente, quem são as ONGs que se destacam em tempos sombrios? Será que estas são anti-cíclicas?
As fundações estão programadas para pensar mais em termos de substância do que em função. Seria possível que a função surgisse nestes tempos conturbados? E aqui estou eu pensando nas inúmeras organizações que dão apoio às ONGs que trabalham arrecadando recursos, comunicação estratégica e governabilidade.
A maioria das ONGs operam com pequenas margens onde os fundos sem restrições são escassos e reservas operacionais são praticamente inexistentes. Sendo assim, até um pequeno declínio das doações podem torná-las insustentáveis. Afinal de contas, uma vez um colega meu disse que temos um setor sem fins lucrativos porque ninguém descobriu ainda como ganhar dinheiro com o que fazemos. Tendo em vista essa realidade, eu sugiro cinco princípios para ajudar a orientar líderes das empresas sem fins lucrativos.
Primeiro: não se apavore e esteja especialmente atento às ansiedades da sua equipe. Segundo: elabore você mesmo exercícios de planos de contingência contemplando uma série de melhores e piores cenários. Terceiro: pense estrategicamente sobre o que você faz e como o faz e faça os ajustes necessários. Quarto: faça leves “contatos com o coração” dos principais doadores e parceiros. Por último, este é o momento de ficar muito atento com a sua missão. Quando se trata de um aperto, os doadores focarão em como se desempenha nessa missão.
Até mesmo nos em tempos mais sombrios existem oportunidades para aqueles que podem lutar contra a tendência de ficar imobilizado ou ir à procura de fundos para atividades independentes alinhadas à sua missão. Dizer isso pode ser até impopular, mas uma sacudida periódica não é tão ruim assim, uma vez que ajuda a reduzir a duplicação e os esforços indefensáveis. No lado positivo, é uma oportunidade para que as alianças estratégicas ajam a pleno vapor. De forma peculiar, as mudanças de prioridades das filantropias organizadas poderão representar mais uma ameaça do que um declínio na economia. Especialmente se as mudanças são feitas precipitadamente e não são administradas com responsabilidade e sensibilidade.
*Barry D Gaberman é ex-vice Presidente da Fundação Ford. Ele pode ser contatado no bgaberman@gmail.com.