*Rodrigo Zavala
Em sete anos de atividades, o Programa Aprendiz Comgás (PAC) tem muito a comemorar. Fruto da parceria entre a Companhia de Gás de São Paulo e a ONG Cidade Escola Aprendiz, a iniciativa divulgou o resultado de seu trabalho com jovens de baixa renda em São Paulo, São Bernardo do Campo, Campinas, Santos, São José dos Campos e Hortolândia.
Levantamento realizado pela MultiFocus, empresa de pesquisa de mercado, constatou que 50% dos jovens entrevistados – ex-aprendizes do PAC – conseguiram emprego e que continuam estudando. Do percentual de estudantes, 54% cursam universidade. E 48% seguiram com a implementação dos projetos elaborados no PAC.
No período de 2000 a 2006 foram investidos R$ 8,1 milhões no programa. Só em 2007 o investimento foi de R$ 1,2 milhão. Nestes sete anos, foram envolvidos mais de 1700 jovens, 120 professores da rede pública estadual capacitados, e mais de 400 projetos sociais nas áreas de saúde, meio ambiente, cultura, cidadania e comunicação desenvolvidos no interior e grande São Paulo.
Em entrevista exclusiva ao redeGIFE a analista de investimento social privado da Comgás, a psicóloga Gisele Gerotto, fala dos sete anos do Programa Aprendiz Comgás e aponta os principais desafios para oferecer oportunidades de participação a jovens de baixa renda.
“Pensar sempre do nosso compromisso com o desenvolvimento deste jovem sem cair na armadilha de achar que para trabalhar bem com jovens é preciso ser igual a eles”, afirma.
redeGIFE – O lema do PAC é “Para mudar o mundo, comece com sua idéia”. Em sete anos, como os jovens mostraram que poderiam fazê-lo? Quais foram as principais preocupações deles?
Gisela Gerotto – O PAC sempre se preocupou em avaliar suas ações e por isso, anualmente, o programa é avaliado por instituições especialistas como Cenpec.
Em 2006 fizemos uma avaliação de impacto, a empresa contratada foi a MultiFocus, empresa de pesquisa de mercado, e alguns resultados desta pesquisa nos alegrou muito, veja: 50% dos jovens entrevistados conseguiram emprego, 50% continuam estudando e do percentual de estudantes e 54% cursam universidade.
No quesito de implementação dos projetos elaborados no PAC, 48% seguiram com o projeto. Hoje, após 7 anos de trabalho com os jovens e principalmente com a disseminação da metodologia desenvolvida conseguimos ver mais e mais jovens tendo oportunidade de participar e fazer por suas comunidades.
redeGIFE – Avaliar mudanças comportamentais ou atitudinais é sempre um exercício complexo. Mas, na sua opinião, quais foram os principais resultados do PAC em relação a esses jovens?
Gisela Gerotto – Os jovens começam a perceber seu papel na sociedade, sentem na pele a dificuldade e alegria em dialogar francamente, de trabalhar em grupo, de conhecer a qualidade dos outros e reconhecer as suas próprias.
O PAC é visto com um local agradável de trocas de aprendizado, e segundo a pesquisa realizada, os jovens sentiram que houve diminuição da timidez e que ampliaram seu círculo de amizades, melhoraram a comunicação e aprenderam a se relacionar com todo tipo de pessoa.
Constataram também que desenvolveram mais responsabilidade e se tornaram mais independentes. Ampliaram a visão de mundo, aprenderam a ter um olhar mais humano e se sentiram vencedores, valorizados como pessoa. Aprenderam a planejar e elaborar um projeto, criar um pensamento organizado, estruturado, melhoraram o desempenho que tinham na escola e desenvolveram habilidades com a informática. E por fim, criaram objetivos de vida, projetos para o futuro e incluíram neles o estudo e o aprimoramento para conseguir uma melhor posição na sociedade.
redeGIFE – Qual é o maior desafio ao se trabalhar com jovens?
Gisela Gerotto – Ter energia e paciência para compreendê-los e aceitá-los. Pensar sempre do nosso compromisso com o desenvolvimento deste jovem sem cair na armadilha de achar que para trabalhar bem com jovens é preciso ser igual a eles. O trabalho do adulto requer maturidade para fazê-los crescer com consciência de cidadão e compromisso.
redeGIFE – Para o percentual que manteve seu projeto de geração de renda, existe algum tipo de acompanhamento a distância pelo PAC?
Gisela Gerotto – Não.
redeGIFE – Qual a relação do PAC, Comgás e Cidade Escola Aprendiz? Parcerias entre empresas e ONGs podem ser difíceis, às vezes …
Gisela Gerotto – O PAC é fruto do diálogo entre ONG e empresa. Digo isso, pois foi um programa construído pelas partes e não simplesmente um programa patrocinado por uma empresa. Eu julgo que o principal desafio foi encontrar um equilíbrio entre os dois interesses que inicialmente pareciam tão distantes.
A insistência e constante avaliação do programa geravam subsídios para se continuar aprimorando o programa e hoje a sinergia é muito boa e rica para as duas partes.
redeGIFE – Qual é o principal desafio do PAC daqui para frente?
Gisela Gerotto – Atingir um número maior de jovens de São Paulo e do interior do estado mantendo a qualidade e o compromisso com esta geração. É importante oferecer a oportunidade de participação para estes jovens, de troca entre as gerações com respeito.
Fonte: Rede GIFE – 10/12/2007