Grupos sociais podem se estruturar e agir em benefício da aprendizagem
Um projeto de voluntariado educativo pode ser entendido como uma prática que possibilita a valorização dos saberes escolares à medida que são utilizados na resolução dos problemas do cotidiano social. Sua aplicação permite que valores éticos sejam vivenciados dentro da sala de aula.
A palavra projeto, originária do latim projectus, é sinônimo de propósito, intenção de fazer algo com objetivo e determinação. A capacidade de projetar é exclusiva dos seres humanos. Nós, como seres sociais, temos a necessidade de realizar planejamentos coletivos, talvez porque seja uma das maneiras de nos sentirmos parte de um grupo e de partilharmos sonhos e desejos.
Somos também os únicos capazes de modificar o meio ambiente, alterar o curso de uma vida e promover intencionalmente a felicidade ou o contrário dela. Graças a essa capacidade de planejar e executar o que pretendemos, é possível transformar a sociedade. Porém, todas essas prerrogativas possuem um contraponto: somos responsáveis por nossos atos e omissões e, por estarmos tão intimamente interligados uns com os outros, sofremos ou nos beneficiamos com as conseqüências das nossas ações.
Primeiro, faz-se necessário relembrar que o voluntariado educativo é uma estratégia facilitadora da aprendizagem e que proporciona ao voluntário, por meio da ação igualitária, a vivência da solidariedade, da tolerância, da aceitação e da compreensão do outro. Favorece uma dupla formação: pessoal e social.
O segundo ponto a ser ressaltado é que o projeto de voluntariado educativo deve representar a proposta educacional da instituição e precisa estar intimamente ligado à sua missão e peculiaridades. Pode-se dizer até que deve ter as marcas identificadoras da comunidade que o originou.
A terceira consideração refere-se à necessidade da construção coletiva do projeto, não podendo deixar de lembrar o cantor e compositor Raul Seixas quando, de maneira muito inspiradora, escreveu: “O sonho que se sonha só é só o sonho que se sonha só. Mas o sonho que se sonha junto é realidade”. Propiciar ao outro um lugar de autoria, de sujeito participante, compromete e confere ao trabalho maior oportunidade de concretização.
As etapas de um projeto de voluntariado educativo podem ser divididas em convocação, diagnóstico, elaboração do projeto, ação, avaliação, registro e divulgação dos resultados. Reiteramos a importância do planejamento de todas as etapas, de maneira a possibilitar a participação de toda a comunidade no processo. Um projeto de voluntariado educativo só terá sentido se for fruto de uma ação participativa.
Convocação
Quase sempre a idéia de iniciar um projeto de voluntariado surge a partir de um sentimento de indignação. Paulo Freire diz que se indignar é o ímpeto contra a agressiva injustiça, e é ela que dá a legitimidade às atividades pelas quais lutamos. Amor, indignação, esperança e ação são as palavras para o refrão norteador da ação voluntária.
Para efetivação de um projeto, é necessário que a união de forças e desejos coletivos sejam estabelecidos. Com a presença e a colaboração de todos, a jornada será mais leve e produtiva. Desta forma, a escolha do tema e a elaboração do projeto não podem ser ações solitárias, resolvidas em um gabinete.
É fundamental perguntar até que ponto o projeto vai despertar e manter a atenção da equipe envolvida no processo educacional. Para cumprir essa tarefa, o ideal é conversar com todos que fazem parte do grupo. Sendo assim, é preciso convocar, convidar, conquistar o apoio e o interesse, comprometendo a escola e a comunidade com um único objetivo.
Diagnóstico
Em medicina, o diagnóstico é a parte da consulta ou do atendimento, voltado à identificação de uma eventual doença. A partir dele é feito o planejamento para a intervenção (tratamento) ou a previsão da evolução (prognóstico) do problema. Assim como na medicina, o diagnóstico é de suma importância na metodologia de projetos, pois norteia toda a organização dos trabalhos. É neste momento que são identificados os problemas, as necessidades e os desafios da ação pretendida.
Para analisar o diagnóstico, é recomendável considerar dois aspectos. Primeiramente identificam-se as reais necessidades da pessoa ou grupo que receberá a ação voluntária. É preciso lembrar que quando observamos algo, o fazemos segundo um determinado ponto de vista. Por isso, o que consideramos importante muitas vezes não é exatamente aquilo que o outro necessita. Portanto, nada melhor do que ouvi-lo.
Outro fator preponderante é que, por se tratar de uma intervenção educativa, as questões referentes ao processo de aprendizagem dos alunos, que serão subsidiadas pelo projeto, também deverão ser consideradas. Perguntas sobre a contribuição do trabalho na ampliação do conhecimento dos estudantes, o que eles já sabem sobre o assunto e quais conteúdos e disciplinas devem pautar este momento.
É nesta etapa que o número e o perfil dos participantes são definidos: papéis/ habilidades, tempo necessário/ disponível etc.
Elaboração de Projeto
Um projeto de voluntariado educativo possui duas intenções básicas: a pedagógica e a ação social. Desta forma, os dois objetivos devem nortear todo o processo, assim seu planejamento necessita compreender tanto as ferramentas didático-pedagógicas quanto às dos projetos sociais.
Essa metodologia sugere perguntas orientadoras para sua elaboração, como identificar os objetivos da aprendizagem e da ação social, local do desenvolvimento do trabalho, para quem se destina a atividade e a maneira que acontecerá a aplicação do voluntário educativo.
Ação
Depois de tudo planejado, de todos os preparativos estarem organizados, chegou a hora da ação. Animar, motivar, reunir, dialogar e pesquisar são palavras de ordem nesta etapa.
Avaliação
Neste caso, o termo avaliar significa pensar criticamente sobre fatos, situações, aprendizagens, tipos de ação etc. Tal processo pode ser feito de diferentes formas. Escutando, falando, questionando e escrevendo, entre outras. O importante é que aconteça tanto individual como coletivamente e que todos tenham oportunidade igualitária de expressão de idéias e de opiniões.
Registro
Aquilo que não é registrado acaba se perdendo no tempo. Os detalhes como dificuldades, conquistas e impactos normalmente se diluem na memória.
Há diferentes formas de registrar:
* Atas de reuniões, pautas, relatórios.
* Banco de dados e pesquisas feitas ao longo do processo.
* Fotografias do antes e depois das ações, eventos, campanhas, reuniões etc.
* Filmagens e gravações das palestras, entrevistas e apresentações.
Divulgação dos resultado
Como uma ação coletiva, os resultados do projeto devem ser comunicados constantemente. A participação é essencial, é a mola propulsora e alimentadora de todo o processo. As conquistas devem ser comemoradas e reconhecidas, a instauração de um clima de sucesso é imprescindível para a continuidade de todo o trabalho. Deixa no coração um gostinho de quero mais.
Fonte: Revista Filantropia On-line
Texto: Beatriz Di Marco. Psicóloga, pedagoga, mestre em educação pela PUC-SP e docente da pós-graduação Projetos Educacionais do Centro Universitário Senac.