* Rodrigo Zavala
Iniciativas de desenvolvimento local podem pecar em dois pontos críticos. O primeiro é o de planejar todo o seu trabalho a partir de um levantamento sobre as necessidades de determinada comunidade ou território. É ainda pior, em segundo lugar, caracterizar as pessoas que ali vivem por renda.
As opiniões são do responsável pelo Núcleo de Estudos e Práticas em Governança Participativa da Fundação Odebrecht, Rogério Arns, que participou do lançamento da Aliança GIFE – RedEAmérica Brasil, no último dia 02, em São Paulo. Durante o evento, Arns e outros especialistas apontaram grandes obstáculos, tal como atitudes saudáveis em programas de desenvolvimento local.
Na opinião de Arns, um dos erros mais frequentes de propostas de trabalho comunitário é não perceber antes o que há de mais positivo na região. Utilizando-se da metáfora de um copo com um pouco de água, ele disse que as iniciativas sempre olham para a parte vazia (necessidades) e tentam preenchê-la.
A lógica do erro está justamente a de não aproveitar as qualidades da metade cheia (do copo). “Ao prover o que eles não têm, o programa é operador do desenvolvimento, não apoiador. Ainda é particularmente cruel com quem já faz alguma coisa pelo bairro, cujo mérito não é enxergado ou valorizado”, afirmou.
Sobre o tema, citou o famoso empreendedor e educador canadense Dr. Moses Coady (morto em 1959): “Somos sensibilizados por aquilo que não temos, mas devemos fazer com o que temos”.
Em seguida, os especialistas presentes no evento também disseram ser um erro caracterizar as pessoas de uma comunidade com a qual se quer trabalhar por meio da renda. Nesse sentido, é imprescindível que se trabalhe pelo conceito da proficiência, isto é, pela habilidade de seus habitantes.
Esse é o caso de programas de transferência de renda, por exemplo, em que o grau de dependência é intensificado pela falta de visão sobre o que uma população é capaz de conquistar. “Se antes tínhamos de ensinar as pessoas a pescar, em vez de dar o peixe, agora precisamos capacitar as pessoas para trabalhar com toda a cadeia de produção da pesca”, argumentou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti.
Para Rogério Arns, a comunidade consegue ter maturidade sobre o que pode fazer, quando é tratada dessa forma. “Por isso, é errado tratá-los como um saco vazio, que precisa ser constantemente enchido”, garantiu.
Fazendo coro às explanações de seus companheiros de mesa, Rodrigo Villar, consultor da RedAmérica Continental e da Fundación DIS – Fundación para el Desarrollo Institucional de las Organizaciones Sociales, tornar essas pessoas protagonistas de seu próprio desenvolvimento é a base de um trabalho profícuo. É preciso dar voz e poder às comunidades pobres para que se organizem coletivamente, definam suas principais necessidades e criem seus próprios projetos. “A autonomia fortalecerá as pessoas para que planejem a vida que querem ter, utilizando seus próprios recursos”, explicou Villar.
Quem tem um papel importante nesse contexto são as empresas, fundações e institutos pertencentes a essas comunidades. Na visão de Célia Schlithler, consultora especialista em investimento social comunitário, esses atores não podem mais aparecer como ilhas de recursos e talentos.
“Não estamos falando de recursos financeiros, mas de todo o poder desses atores para fortalecer as lideranças locais, estimular as organizações de base, dialogar com o poder público, entre outras capacidades, e empoderar a população na hora de influenciar políticas públicas”, acredita.
Nesse tópico, Rogério Arns foi taxativo: “o maior problema do pobre é que seu amigo também é pobre e não tem a quem recorrer”. Segundo ele, o setor privado pode concentrar seus esforços no que chama de “atitudes saudáveis”.
1. Identificar e fortalecer líderes;
2. Valorizar a cultura e o histórico comunitário;
3. Facilitar a busca pelo conhecimento (desmistificar o acesso à informação);
4. Apoiar a participação de iniciativas de referência (vendo projetos que deram certo, passam a acreditar mais em seu potencial);
5. Fomentar a conectividade entre a população.
“As pessoas que atuam nas comunidades têm baixa acessibilidade a informações. É preciso explorar os atores que possuem esses conteúdos e aqueles que têm os meios para difundi-los”, disse.
Nesse ponto, é importante, mais uma vez, lembrar de um adágio proferido pelo educador Moses Coady, que dá nome a um instituto internacional de educação no Canadá: “você é pobre o suficiente para querer isso e esperto o suficiente para fazê-lo”.
Aliança GIFE – RedEAmérica Brasil
Desenvolver estratégias e metodologias compartilhadas para promover e apoiar iniciativas de desenvolvimento de base pela América Latina, qualificando empresas e fundações a trabalhar com o tema. Ao mesmo tempo, colocar na agenda de governos e das agências de cooperação uma alternativa de empreendimento social.
Esse é o trabalho realizado pela RedAmerica – Rede Interamericana de Fundações e Ações Empresariais para o Desenvolvimento de Base, organização presente em 13 países e que, desde 2002, vem reunindo experiências e práticas realizadas por mais de 60 empresas e fundações de origem privada – sendo 10 delas no Brasil.
Agora, a organização se une ao GIFE para criar a Aliança GIFE – RedEAmérica Brasil e convergir os esforços para a redução da pobreza no continente.
Fonte: Gife Online
Data: 08/06/09