De acordo com pesquisa sobre práticas de RSE no Brasil, a maioria das ações desenvolvidas pelas empresas visa atender às exigências legais.
Os resultados e as implicações da pesquisa Práticas e Perspectivas da Responsabilidade Social Empresarial no Brasil 2008, realizada pelo Instituto Ethos em parceria com o Instituto Akatu e com o Ibope Inteligência, foram debatidos em seminário, na última quarta-feira (29/07), com mediação da jornalista Célia Rosemblum, do jornal Valor Econômico, e a participação do presidente do Instituto Akatu, Helio Mattar, do presidente do Ethos, Ricardo Young, e do vice-presidente, Paulo Itacarambi.
A jornalista questionou a mesa sobre os dados revelados pela pesquisa segundo os quais a grande maioria das ações de RSE, atualmente, visam atender às exigências já regulamentadas em lei. Ou seja, poucas empresas implementam ações voluntárias, que vão além da lei.
Para Itacarambi, as duas coisas caminham juntas e é preciso combinar as ações voluntárias, isto é, a autorregulamentação, com a regulamentação legal. Isso, segundo ele, tem de acontecer numa dosagem que o mercado possa absorver. Em sua opinião, é preciso trabalhar com o conhecimento, com os atributos da sustentabilidade, e disseminar isso, aproveitando a regulamentação para impulsionar mudanças. Em sua opinião, o movimento voluntário sozinho não conseguirá avançar rapidamente, como é preciso.
A regulamentação é necessária, segundo Ricardo Young, porque as grandes empresas são muito resistentes às mudanças em sua forma de gestão, especialmente mudanças radicais, como as que são exigidas por um modelo de economia sustentável. “Elas precisam abrir espaço para o diálogo qualitativo entre as partes interessadas, o que é muito mais difícil de conseguir nas grandes empresas do que nas pequenas.”
Contrariando o jargão de que as grandes empresas têm melhores condições de adotar as práticas de responsabilidade social, Young falou com entusiasmo das perspectivas de engajamento das PMEs. “Constatamos uma rapidez extraordinária de mudanças em pequenas empresas a partir do momento em que seus dirigentes se conscientizam da importância da responsabilidade social. Eles conseguem desencadear um processo com muito maior rapidez e efetividade do que em grandes empresas, onde tudo precisa ser negociado”, justifica.
Young cita o exemplo das empresas do setor de franquias. Por meio de sua entidade de classe, elas conseguiram implementar um programa de responsabilidade social com uma agilidade muito maior do que em outros setores, mesmo sendo cerca de 70 mil empresas, justamente porque representam um coletivo de pequenas empresas.
Helio Mattar concorda que o mais importante é implementar um processo de mudança cultural. Mas, para ele, somente o mercado poderá provocar um avanço nas empresas, especialmente nos setores mais competitivos.
Comentando a falta de credibilidade das companhias entre os consumidores no que se refere às iniciativas de RSE, dado apontado pela pesquisa, Mattar admite que o índice é muito elevado e que, para resolver o problema, é preciso fazer uma pesquisa junto ao público formador de opinião e trabalhar a partir daí para começar a mudar esse quadro. Brincando com a jornalista, que observou que a metade dos consumidores desconfia das ações empresariais na área de responsabilidade social, Mattar observou: “Se o copo está metade vazio, significa que ele está também metade cheio. Agora é preciso trabalhar a outra metade”.
Fonte: Celso Dobes Bacarji (Envolverde) / Edição de Benjamin S. Gonçalves (Instituto Ethos);
Data: Agosto de 2009