A formação em rede se tornou uma das práticas mais recorrentes dentro do campo social nos últimos anos, pois são consideradas cada vez mais imprescindíveis para a articulação de diferentes atores sociais. No entanto, elas de nada valem se esses atores não sistematizarem o conhecimento adquirido a partir do diálogo estabelecido dentro dessas estruturas, que perpassam pelo mundo virtual e presencial.
Isto é, não basta apenas criar um meio para a troca de idéias e informações. O ideal é construir um espaço de convergência e emancipação política e econômica de seus participantes e colaboradores, por meio de conectividade e cooperação em níveis que partem do local para o global.
Esse foi apenas um dos consensos entre os mais de 400 participantes do seminário Redes e Desenvolvimento, promovido pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL), em parceria do Senac-SP. Durante três dias de evento, especialistas e lideranças sociais debateram a emergência das redes sociais e sua importância para a criação de uma sociedade sustentável.
“Os problemas contemporâneos são tão complexos que não podem ser solucionados sem o envolvimento e participação dos diferentes atores sociais. As redes, nesse contexto, revelam-se como uma forma promissora de articulação entre lideranças e setores”, acredita Dalberto Adulis, coordenador de Redes da ABDL.
Para entender o chamado “redismo”, é preciso conhecer as evidências teóricas e práticas em que ele está fundamentado. Utilizados como referência em quase todas as palestras realizadas durante o seminário, os conceitos defendidos pelo sociólogo espanhol Manuel Castells apontam as redes como as formas mais adequadas para a organização do trabalho no contexto atual de revolução nas tecnologias de informação.
No Brasil, o pensador mais celebrado nesse campo é o acadêmico militante Francisco Whitaker, uma das lideranças do Fórum Social Mundial. “Redes são estruturas em que seus integrantes se conectam horizontalmente a todos os demais, diretamente ou por meio do que os cercam. Nesse modelo, não há um chefe, senão uma vontade coletiva de realizar um determinado objetivo”, define Whitaker, um dos convidados especiais do evento.
E isso não envolve apenas o campo social. “Na virada do milênio, as redes oferecem uma das formas mais lucrativas de produção – de pequenos negócios a grandes corporações. O sucesso de negócios em rede – eBay é apenas um exemplo – se deve a disseminação de uma plataforma de relacionamento, em que as organizações participantes da rede usam esse espaço não só para as relações entre elas, mas também nas relações com outros parceiros”, afirmou o secretário-geral do GIFE, Fernando Rossetti, em seu artigo Sete Princípios para Redes Sociais.
Por essas razões, torna-se fundamental para as redes, sejam sociais, empresarias, ou mesmo os dois setores articulados, que o conhecimento produzido por seus participantes propicie uma real transformação. Desta forma, ela deve ter uma missão e metas bem planejadas, em que a interação entre os diferentes atores envolvidos leve a uma natural atuação.
“Não há fórmulas, pois grande parte dessas redes nasce de forma espontânea. No entanto, existe um caminho mais freqüente: a reunião (espaço comum), a identificação dos atores, a proposição, a composição, um novo compromisso e, enfim, a ação”, defendeu Jorge Duarte, gestor da área de Desenvolvimento Social do Senac São Paulo.
Tecnologias – Uma das experiências mais exemplares no trabalho em rede vem de São Paulo, por meio da Cidade do Conhecimento, projeto do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Criada em 2001, a iniciativa uniu universidades, governos municipais e estaduais em prol da construção integrada de conhecimento e sua utilização na construção de políticas públicas.
“Trata-se de um espaço, público e gratuito, para produzir e acessar conteúdos de alta qualidade em parceria com profissionais da USP e de outras comunidades”, define Gilson Schwartz é Diretor Acadêmico da Cidade do Conhecimento.
Ele participou de uma das mesas mais concorridas do evento, a Redes e Conhecimento, na qual participaram também Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Faculdade Cásper Líbero, e o professor da Pontifícia Universidade Católica, Rogério da Costa. Na mesa discutiram como os novos meios de comunicação, e principalmente a Internet, têm possibilitado o surgimento de formas inovadoras de acesso, compartilhamento, produção e disseminação de conhecimento.
Antes de se ater às implicações das tecnologias de informação, Schwartz foi enfático: “é importante inserir essas conexões em comunidades que passam por um processo de desenvolvimento local. No entanto, é preciso ir além da chamada inclusão e falar em emancipação digital. Não é mais possível pensar em redes, sem que os atores sejam apenas consumidores de tecnologias. Eles devem ser produtores, autores e entender a importância política dessa emancipação”.
Para Silveira, um dos exemplos práticos é a utilização de softwares livres, como o Linux, em um mercado dominado por grandes empresas. “Esse é o antagonismo do capitalismo informacional na fronteira digital. As possibilidades expansivas do conhecimento em redes digitais versus as restrições do aparato jurídico e técnico das grandes corporações”, analisou.
Ao falar sobre Linux, ele deixou claro seu ponto de vista ao mostrar que sua construção se dá em redes. “O que apresento aqui, por exemplo, são 99% idéias de outras pessoas e 1% minhas, assim como o Windows ou outros softwares, que também são feitos dessa maneira”, explicou Silveira.
Rodrigo Zavala
Fonte: GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas
www.gife.org.br