Mais de 50 milhões de brasileiros vivem hoje em situação de vulnerabilidade social. Essa dramática realidade é permeada por fatores estruturais que tornam inviável para o Estado atender as expectativas da sociedade. Falta eficiência na gestão pública e não há a possibilidade de dispor de mais recursos por meio do aumento da carga tributária.
A responsabilidade pela realidade social brasileira, entretanto, não é somente do Estado. É de todos. Falta crescimento econômico, mas falta também resgatar a solidariedade, sentimento raro na sociedade moderna pela absoluta impessoalidade das relações entre as pessoas. Uma das alternativas para resgatar a solidariedade é o trabalho voluntário. Ele significa a chance de estabelecer, de forma econômica, uma conexão entre aqueles que dispõem de conhecimento e os que dele necessitam. Para cada R$1,00 investido, a atividade voluntária chega, em alguns casos, a dar retorno de R$ 20,00. Além disso, fortalece o capital social, ou seja, aumenta a confiabilidade entre as partes integrantes da sociedade e, conseqüentemente, favorece a consolidação da democracia.
Ao ter uma atitude de solidariedade, as pessoas reforçam a sua cidadania e passam a perceber os outros de forma mais ampla, à medida que aumentam a interação com a comunidade. Também se diferenciam no ambiente de trabalho, pela generosidade e pela capacidade de atuar melhor em equipe.
Nas empresas, existem diferentes tipos de atuação na área de responsabilidade social. Algumas são meras doadoras de recursos e ignoram a eficiência de seus investimentos; outras são financiadoras – dão o dinheiro e fiscalizam sua aplicação; finalmente, outras têm atitudes empreendedoras, ao participar da construção de melhoras entidades sociais por meio da sua atividade voluntária e a de seus funcionários.
A decisão das empresas de assumir atitude empreendedora resulta da mobilização de sua principal liderança, movida por convicções espirituais, emocionais ou materiais. Independentemente dos motivos, a atividade voluntária do setor privado significa enorme ganho para a sociedade devido à transferência de suas práticas de gestão, determinantes para o sucesso de qualquer empreendimento. O voluntário permite obter melhor eficiência econômica e aprimorar o comportamento humano. Faz com que as instituições sociais se tornem capazes de administrar melhor suas atividades e de mobilizar a comunidade para as suas causas com mais eficiência.
No Brasil, há uma série de atividades voluntárias onde a participação de pessoas e de empresas, muitas vezes, é pontual ou sem compromissos formais. É um início, mas não é suficiente. Precisamos de trabalho organizado, com vínculos de responsabilidade entre o voluntário e a entidade social por meio de metas a serem conquistadas, dias de trabalho estabelecidos e carga horária definida.
Alguns bons exemplos no Brasil confirmam a convicção de que começamos a construir a solidariedade organizada. O voluntariado não substitui a responsabilidade do Estado, mas é uma revolução que começa a ganhar força e cujos resultados são absolutamente animadores. É preciso apenas ampliar as oportunidades de atuação e as ferramentas para mobilizar a população – um exército de milhões de voluntários em potencial.
Jorge Gerdau Johannpeter
Presidente do Conselho do Grupo Gerdau, presidente Fundador do Movimento Brasil Competitivo e coordenação da Ação Empresarial.
Texto publicado originalmente na Folha de São Paulo – B4
Data: 10/12/2006