O que significa o conceito de sustentabilidade e quais as suas implicações na vida das pessoas e das organizações empresariais? Essas questões basearam pesquisa realizada pelo Grupo Ibope, divulgada na última semana, que fez um diagnóstico de como o setor privado incorporou valores inerentes aos negócios sustentáveis. Resultado: embora a intenção exista, ela ainda não se converte em comportamento.
Para analisar a opinião da comunidade empresarial, o Ibope Inteligência entrevistou 537 executivos de 381 grandes empresas brasileiras. E, por meio das respostas, é possível detectar paradoxos entre o que se entende como sustentável e o que realmente se faz para chegar a esse fim, principalmente no que se traduz em questões estratégicas.
Entre os exemplos estão os quatro critérios para definir uma empresa como sustentável, apontados na pesquisa. Nessa questão, 92% dos executivos concordaram que preservar o meio ambiente é vital para o processo, seguido de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil (89%), investir em ações sociais (87%) e ter sucesso em longo prazo (83%).
“O fato de um número tão alto concordar nesses tópicos mostra que eles entendem o conceito de triple bottom line (que designa o equilíbrio entre os três pilares – ambiental, econômico e social), que está na base de todos os novos negócios”, argumenta o CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni.
O responsável pela pesquisa, no entanto, afirma que, na caracterização das empresas, os principais aspectos levantados não estão diretamente relacionados à responsabilidade socioambiental. Os entrevistados constataram como principais preocupações ser ética (que tem mais a ver com práticas de combate ao preconceito e discriminação), em 80%, pagar impostos (78%), respeitar os consumidores (73%) e cumprir as leis trabalhistas (72%).
Isso pode explicar, por outro lado, outra conclusão do Ibope: embora o tema tenha ganhado maior projeção nos últimos anos, não há expectativa de mudança nos investimentos. Os recursos a serem aplicados nas empresas terão como prioridades as áreas de atualização tecnológica, introdução de novos produtos e serviços, ampliação das capacidades atuais e treinamento de pessoal. “Apesar de estarem em últimos lugares, a responsabilidade social e a ambiental também aparecem na lista. Mas, não como algo estratégico”, considera Marangoni.
Segundo o economista e filósofo, Eduardo Gianetti, a população em geral não tem antevisão. Isto é, noção de como suas ações no presente irão impactar em um futuro a curto, médio ou longo prazo. “Sem isso, não há estratégia de ação, tampouco implementação”, critica. “Temos que ter humildade para reconhecer nosso desconhecimento”.
Comunicação – Embora o Ibope mostre que as empresas ainda possuem um gap entre o que se almeja e o que realmente é realizado de forma estratégica, a superexposição do tema da sustentabilidade tem levado o setor privado a uma agressiva comunicação. Em artigo publicado no redeGIFE, na última semana, Clarissa Medeiros e Juliana Raposo, sócias-diretoras da Eis Comunicação, analisaram os discursos da ” a mais sustentável”, da que “tem a sustentabilidade em seu DNA”, muito difundidos no setor privado.
“Para se apropriar do conceito, a maioria lança campanhas sem o devido conhecimento do tema ou respaldo na prática, o que pode afetar a percepção do público sobre a empresa, levando-a ao descrédito e ferindo sua reputação – ativo intangível vital para a perenidade do negócio”, consideram.
Elas também baseiam suas conclusões em uma pesquisa sobre o conhecimento do tema Sustentabilidade realizada junto a 114 mulheres, que são a maioria na área de Comunicação Corporativa. Coordenado pelo Instituto Aberje de Pesquisas (DATABERJE), em 2006, o estudo ouviu 110 grandes empresas de todo o país e mostrou que 89% das profissionais, inclusive gerentes e diretoras, não sabem qual é o investimento da empresa em sustentabilidade; a prática de ações integradas, que levem em consideração o aspecto social, ambiental e econômico foi citada por apenas 12% das profissionais.
Para o CEO do Ibope Inteligência, Nelsom Marangoni, o conceito de sustentabilidade ainda está em fase de transição e, assim, tende a suscetibilidade de condutas e opiniões de contexto imediato. “Ainda estamos no começo. Existem muitos conceitos diferentes que dificultam um foco e que o investimento seja consoante à área de atuação da empresa”.
Fonte: RedeGifeOnline – 10/09/2007 – Rodrigo Zavala