Nunca se falou tanto sobre economia verde, valoração de serviços ambientais, tecnologias de baixo carbono e outros temas sobre desenvolvimento sustentável que há poucos anos eram preocupação apenas da agenda de ambientalistas e organizações não governamentais. Hoje somos expostos a inúmeros anúncios e notícias sobre diversas corporações que buscam desenvolver seus negócios de uma maneira diferente, levando em consideração a responsabilidade socioambiental. No entanto, existem muitas mudanças e inovações necessárias para se estabelecer de fato um modelo mais “sustentável” de se fazer negócios no Brasil. Com o aperfeiçoamento das dos indicadores e índices socioambientais e com cada vez melhores exemplos no mercado, o ambiente corporativo sofre maiores cobranças e deverá estar preparado para novos e maiores desafios.
Um ponto de partida definitivo para a consolidação de práticas de sustentabilidade foi o fato de que o assunto chegou às mesas de conselhos administrativos e aos diretores; os tomadores de decisão devem estar cientes da importância da sustentabilidade para o crescimento adequado da empresa. Esta consciência vem ultrapassando o “greenwashing”. Dentre as motivações para a mudança de paradigma que podemos notar nas empresas, destacam-se as exigências dos consumidores, as novas regulamentações, a competitividade de mercado, e, principalmente, os benefícios econômicos destas práticas.
As ações mais simples, como auditorias ambientais para atendimento à legislação vigente, evitam multas de milhares e até milhões de reais sobre possíveis passivos ambientais e auxiliam a empresa a atender às leis e até a adiantar-se a algumas. Um exemplo importante de regulamentações que vêm influenciando e exigindo a pró-atividade das empresas é a Política Nacional sobre Mudança do Clima, que determina uma redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) entre 36,1% a 38,9% das emissões projetadas para o ano de 2020. Em consonância, diversos estados lançaram suas políticas, que embora ainda não estejam completamente alinhados com a lei federal, possuem influência fundamental pelo seu caráter obrigatório. Uma das respostas positivas às regulamentações vagas e ausência de clareza nas legislações brasileiras sobre o clima, um grupo de grandes empresas brasileiras formou a iniciativa Empresas pelo Clima, que busca maior clareza na legislação brasileira, e apresenta propostas de inovação com relação ao uso de energia, agricultura, e transporte.
Adicionalmente, muitas empresas já possuem ações importantes para contabilização de suas emissões e realizam inventários de emissões considerando confiáveis padrões, como o GreenhouseGases (GHG) Protocol, mas não sabem qual o real peso dessa informação para sua tomada de decisões. Caracterizar fontes e calcular emissões é o primeiro passo para estabelecer metas e ações para mitigação das emissões, como exigem as Políticas, porém muita criatividade e novos conceitos precisam ser inseridos na discussão para atingir reduções significativas em uma produção, muitas vezes, já sustentável. Grandes empresas possuem ações voltadas à área de eco-eficiência e realizam consumo racional de combustíveis, matérias-prima e energia e contabilizam os ganhos como ativos financeiros, mas não consideram as significantes reduções das emissões de GEE. Essas ações sempre trazem ganhos intimamente ligados ao conceito de sustentabilidade e as empresas quase nunca se dão conta disso.
Os investidores também demonstram cada vez maior interesse nas práticas ambientais da corporação, uma vez que a comunicação e a transparência com relação aos ativos e passivos ambientais de uma empresa tendem a diminuir o risco dos negócios, aumentando a transparência das relações. Um exemplo já consolidado no mundo empresarial é o Global Reporting Initiative-GRI, iniciativa que nasceu na Holanda, e hoje já tem aderência das mais importantes multinacionais em diversos países, especialmente no Brasil. O GRI apresenta um conjunto de indicadores relacionados às questões ambientais, sociais, e de governança que buscam monitorar a evolução das companhias nestes quesitos, atendendo às demandas de diferentes stakeholders e shareholders. Indicadores de sustentabilidade também vêm sendo utilizados em combinação com indicadores econômicos, como é o caso do Índice de Sustentabilidade Empresarial, e do Índice Carbono Eficiente, da BM&FBovespa.
Mesmo com as tendências de mercado favoráveis à valorização da sustentabilidade, no Brasil ainda existem poucas iniciativas de instituições financeiras que demonstrem resultados efetivos para uma economia mais verde. A criação de fundos específicos, como é o caso dos fundos multilaterais do Banco Mundial, ainda não repercutiram uma alavancagem de diferentes projetos que poderiam ser implementados, especialmente em pequenas e médias empresas brasileiras, que precisam ter seus projetos fomentados. Segundo o estudo Financiamentos Públicos e Mudança do Clima realizado pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGV) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), existem recursos financeiros disponíveis, mas as instituições financeiras ainda não possuem instrumentos para avaliar a aplicação desses valores nos projetos. Há muito questionamento sobre a real necessidade das empresas precisarem de financiamento em projetos ambientais, principalmente por esse tipo de ação ser, na maior parte das vezes, deixada em segundo plano em comparação com investimento em tecnologia ou pesquisa.
O momento para o desenvolvimento de novos modelos de negócios é propício, e as características do Brasil apresenta vantagens competitivas no caminho para uma economia menos agressiva ao meio ambiente. Para isso, é fundamental que ocorra a mobilização do setor privado, seja para exigir um posicionamento mais claro do governo, seja para propor inovações tecnológicas e principalmente, para aumentar os investimentos em novos projetos e tecnologias capazes de atingir resultados melhores e mais eficientes. A pró-atividade e a originalidade devem fazer parte do novo paradigma econômico mundial, e estas são características que o povo brasileiro costuma defender “ter de sobra”.
Por Ernesto Cavasin, Eloisa Casadei e Heloísa Garcia, da PwC
Especialistas em Sustentabilidade da PwC.
Fonte: Plurale