Novas demandas exigem o desenvolvimento de outras competências e habilidades dos gestores e ditam tendências da educação executiva no país.
Por Paulo Itacarambi*
O mundo corporativo atual está cada dia mais competitivo, globalizado e com mais demandas a serem atendidas pelas empresas e pelos executivos.
Continua sendo imprescindível para um gestor conhecer profundamente o mercado e o setor em que a empresa atua, como também o próprio negócio. Só que a esses conhecimentos tem sido necessário agregar outros, que são reflexo das novas demandas sociais e ambientais. Isto porque vem aumentando exponencialmente o interesse público sobre as decisões corporativas e os impactos que elas trazem para a ética, os valores e as relações sociais, bem como para o meio ambiente
e a economia de uma cidade ou um país.
Quais são essas novas demandas?
De modo geral, além de conhecer e administrar o mercado e o negócio, o executivo de hoje também precisa de flexibilidade e de habilidades para se relacionar com os diversos públicos afetados pela empresa – não apenas os acionistas.
O suplemento que o jornal Valor Econômico publicou no dia 30 de janeiro sobre educação executiva traz o depoimento de vários consultores e todos eles concordam que o desafio atual da gestão é relacionar-se bem com fornecedores, funcionários, clientes, parceiros de negócios, representantes sociais e de governo.
Essas novas demandas têm a ver com a responsabilidade social empresarial e a sustentabilidade, já que ambas necessitam de um constante diálogo com as partes interessadas para se internalizarem na gestão e, com isso, contribuírem para mudar a sociedade.
Isso de fato exige o desenvolvimento de outras competências e habilidades dos gestores e dita tendências da educação executiva no Brasil.
Vale a pena, então, comentar aqui como essas novas demandas vêm sendo abordadas pela educação executiva. Elas estão ajudando os executivos a encontrar respostas para os desafios que enfrentam?
Para atender essas demandas, as empresas têm tanto ido buscar esse perfil no mercado de trabalho quanto investido no aprimoramento do seu próprio quadro de gestores. Nesse último caso, a tendência vem sendo desenvolver cursos in company, por causa da possibilidade de focar o conteúdo na estratégia do negócio, no dia a dia e na cultura interna da empresa.
Seja dentro da empresa, seja em escolas, como esses cursos tratam a sustentabilidade?
O Uniethos realizou recentemente uma pesquisa com as empresas associadas ao Instituto Ethos sobre a educação executiva para a sustentabilidade. Os resultados dessa pesquisa vão contribuir como subsídios para um ciclo de debates com empresas, com o objetivo de apurar as necessidades delas para, assim, orientar as grades curriculares dos diversos programas de educação executiva – e mesmo os cursos de graduação e pós-graduação das universidades.
Resultados
Segundo as respostas dadas pelos participantes da pesquisa do Uniethos:
– 52% das empresas facilitam ou apoiam a participação de funcionários em cursos fora da empresa; e 43% realizam cursos e eventos in company, com a ajuda de parceiros;
– As áreas de Sustentabilidade e/ou RSE, Gestão e Finanças e Comercial costumam ser as mais envolvidas nos programas educacionais;
– As maiores necessidades de conhecimento apontadas para o fortalecimento da sustentabilidade na gestão foram as seguintes: sustentabilidade na gestão de pessoas; gestão de riscos e impactos socioambientais; monitoramento das cadeias de fornecedores e gestão de práticas de sustentabilidade.
Conclusões:
É possível tirar algumas conclusões desses resultados, que podem orientar empresas, consultorias e instituições de ensino a trabalhar com maior profundidade os conteúdos sobre sustentabilidade.
– A maior parte dos conteúdos ainda é mais teórica e pouco aplicável. Em muitos programas não se aborda de maneira eficaz o modo como os conceitos podem ser aplicados na prática e como devem ser alinhados às estratégias empresariais com foco no sucesso do negócio;
– A empresa precisa colaborar no desenvolvimento dos cursos para que eles possam suprir as novas necessidades do negócio. Essa, aliás, tem sido a atitude em relação às grades curriculares dos cursos de graduação tradicionais. As mudanças operadas nos cursos de administração na década de 1990 para abordar os temas da globalização, por exemplo, foram feitas também de acordo com as demandas das empresas;
– A sustentabilidade ainda não é assunto valorizado nas empresas, prevalecendo a visão de curto prazo.
Mesmo assim, muitas organizações já se convenceram de que as empresas bem-sucedidas no longo prazo são aquelas que agem como instituições sociais – constroem relacionamentos duradouros e criam valor para a sociedade –, provendo um ambiente propício para a colaboração coletiva e para a sustentabilidade.
* Paulo Itacarambi é vice-presidente executivo do Instituto Ethos.